O valor da Copa Sulamericana

No dia 27 de setembro de 2006, escrevi aqui no Puro Futebol sobre a importância da Copa Sulamericana. Cito a data porque até então, nem Inter nem Grêmio haviam vencido a competição. Agora como o Inter venceu, as análises se tornam tendenciosas em virtude da rivalidade, o que é normal, e o inverso também aconteceria se o Grêmio tivesse vencido.

Como sempre fui um entusiasta da Copa, escrevo em defesa da competição, não por que A ou B venceu, mas porque agora o assunto é mais pertinente e atual.

Um dos argumentos usados para diminuir a Copa, é que ela não leva a lugar nenhum. Um tremendo "vício de origem" presente neste argumento. Temos exemplos de competições que "não levam a lugar nenhum" e isto não é um fato que torne a conquista menor. Peguemos dois extremos: Gauchão e Mundial Interclubes não levam a lugar nenhum, em fria análise. No caso do Gauchão, mesmo considerando vaga à Copa do Brasil, o vice também conquista a vaga. No caso do Mundial, não lugar a ir mais além. E ambos, guardadas todas a proporções, são valorizados de acordo com suas grandezas. Ou seja, uma bobagem enorme exigir que um torneio tenha que levar a algo, necessariamente. Se um torneio é bom (lucrativo, exposição positiva, etc) pode sim, esgotar-se na própria conquista.

De outra forma, alguns torcedores comparam a participação na Libertadores com algo muito maior que a conquista da Sulamericana. O porém é que essa participação na Libertadores, só é maior que um título da Sulamericana, se a presença na Libertadores for exitosa. O próprio Inter, com a participação pífia de 2007, jamais trocaria aquela simples participação pelo título deste ano.

Em termos financeiros, as premiações são bastante interessantes, podendo ser ampliada com a conquista do torneio contra o Campeão japonês. Nesta conta também entram as cotas da televisão, o aumento nas vendas de artigos do clube, aumento do número de sócios (ou no mínimo a manutenção dos atuais), e quando há ingressos a serem vendidos, lucros de bilheteria.

Na parte de divulgação da - palavra da moda - "marca do clube", é também muito vantajoso. Desde as semi-finais, as partidas são transmitidas para mais de 60 países ( e isso não é pouco). Sites do mundo inteiro divulgando partidas e principalmente o campeão, não só nos dias de jogos mas nos dias que antecedem as decisões.

No futuro, fica para o clube, uma partida no Japão (mercado muito cobiçado pelos grandes clubes brasileiros), a manutenção de um ciclo de decisões internacionais, a certeza de já estar envolvido e em exposição em outra decisão internacional através da Recopa (com mais plata entrando e mídia) do ano seguinte, além, obviamente, do próprio caneco armazenado na sala de troféus.

Subjetivamente ainda tem a auto-estima da torcida engrandecida, o entusiasmo, diminuição da pressão por grandes títulos, maior poder de negociação junto aos patrocinadores (atuais e futuros), e por aí vai.

Já vi gente escrevendo que a Sulamericana já foi ganha por equipes de menor expressão (Cienciano e Arsenal), e na hora de argumentarem, citam tais equipes ( e eu estou citando novamente), mostrando justamente a fragilidade do argumento: só citam estas equipes exatamente por terem vencido a Sulamericana, de outra forma não estariam sendo citadas. Isto mostra que há valorização do clube, tenha o tamanho que tiver.

No site da Fifa (
via Clic RBS), a competição é tratada como similar a Copa da UEFA. No site da Conmebol, a entidade coloca Inter e Boca como os maiores campeões da América do Sul. Em fóruns pela Argentina e Brasil, o Inter é comentado e elogiado. Não há como negar a importância da Copa Sulamericana, que mesmo menor que a Libertadores, é o segundo torneio em importância do continente. E a final deste ano só fez valorizar esta Copa. A mística da grande final, o jogo tenso, entrega total das equipes, prorrogação, o gol dramático do título e a consagração.

É certo que a rivalidade tem muito a ver com essa tentativa de depreciação, o que é normal, só não dá pra emburrecer por isto.

Talvez a conquista do Inter acelere o envolvimento dos clubes brasileiros na Copa Sulamericana, o que seria bom, principalmente para os clubes.
E mesmo que todos os argumentos acima não sejam suficientemente convincentes, lembrem de como os brasileiros tratavam a Libertadores até os anos 80. Depois que foram correr atrás, quando outras equipes (argentinas e uruguaias) já empilhavam títulos. A Sulamericana, principalmente se manter o critério técnico de classificação, diminuir o número de vagas por país e já começar em fases de grupos internacionais, seguirá o mesmo caminho da Libertadores. Será primeiro conquistada várias vezes por times estrangeiros (a Argentina já possui 4), até que os clubes brasileiros resolvam parar de rasgar dinheiro e prestígio.


Foto: Jornal O Estado de São Paulo (www.estadao.com.br)

1 comentários:

Gabriel disse...

Isso tudo por causa da mania do brasileiro...não é uma questão dos clubes....é uma questão cultural, apenas isso

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