Ou seja, a entidade deve defender seus filhados e por extensão inclusive a prática e difusão do esporte, incentiva, e inclusive obriga, a que fechem o departamento de futebol profissional por mais de um ano.
O caso do Bagé é um bom exemplo. Foi clube fundador (através do Rio Branco) da FRGD (Federação Rio-grandense de Desportos), em 18 de maio de 1918, atual FGF.
Disputou todas as competições que lhe cabiam, inclusive as mais disparatadas fórmulas e acatando desportivamente inclusive aberrações jurídicas (no âmbito da Justiça Desportiva). Desde 2001 disputa o atual modelo de Segundona, e em todos os anos, com exceção de 2011, sempre passou da primeira fase da competição e, na maioria destes anos, de forma tranqüila, em primeiro ou segundo lugar das chaves. Ironia do futebol, justo no ano em que é implantado o rebaixamento para os dois últimos colocados de cada chave da primeira fase, o Bagé faz sua pior campanha da história. mas estava lá no regulamento, que venha a Terceirona.
O injusto, se é que há injustiça neste sentido no futebol, é que por anos e anos o Bagé manteve-se em atividade nestas competições menores, com interesse genuíno, o que contribuía indiretamente para a valorização deste campeonato, que hoje o Bagé não tem mais direito de disputar, enquanto clubes aventureiros (que nem entrariam no futebol profissional caso tivessem que começar numa 3ª divisão) vão jogar, mesmo tendo cumprido campanhas pífias nos anos anteriores ou tendo começado no futebol profissional ano passado (literalmente, não é figura de linguagem).
Entretanto, caímos no campo. Que tivesse sido pensado nisso antes de aprovar a fórmula deste ano. Isto já está posto e o lamento é mais pela própria “injustiça” do futebol, que também por estas é futebol.
Mas o surreal é que os times que caíram pra 3ª divisão este ano, não poderiam participar da Copa FGF do segundo semestre. por decisão da FGF. Ela decidiu que os clubes deveriam fechar as portas. Ao invés do incentivo para que se jogue futebol, o negócio e ficar fechado até o segundo semestre de 2012, porque a 3ª divisão do ano que vem só começa após o término da Segundona 2012.
Quer dizer, como castigo não basta cair de divisão (além disso, cair pra uma divisão incipiente), tem que fechar as portas por mais de um ano (15 meses, para ser exato).
A deficiência técnica é crime hediondo. Além do que, se formos analisar as causas de chegar a este ponto, muitas delas tem a mesma origem daquela que nos impede de jogar.
E, cúmulo dos cúmulos, por medida da CBF, teremos que assistir jogos da 3ª sem poder beber cerveja.
Gauchão é a “elite”
Antes do retorno da Terceirona, já era da opinião que o Gauchão não serve pra absolutamente nada no longo prazo dos clubes do Interior, a não ser que saíssem campeões com certa freqüência. A outra serventia era a questão da “flauta”: um rival na A e outro na B rende aos torcedores. Aí veio a “mesada” da FGF de 500 mil reais para os clubes do Interior (em virtude das cotas de TV) e o discurso de chegar ao Gauchão é tudo que importa ficou mais forte. Mas pelo que se viu nos últimos anos, as coisas seguem da mesma forma.
Clubes como o Veranópolis ou Santa Cruz, por exemplo.
Organizados, montam times “ajeitadinhos”, ainda mais com os 500 pila da FGF...por 3 meses (isto para quem chega na final). Além de nunca ganhar o título. E por nove meses (tempo suficiente até para gerar e parir um novo ser humano) ficam sem futebol. E assistindo os seus conterrâneos torcendo massivamente para Grêmio e Internacional. Claro, na cidade nem futebol tem, enquanto Grêmio e Inter disputam grandes campeonatos.
E nem falo da questão “mistos” (que torcem pra Inter ou Grêmio, mas dedicam a mesma energia pro clube da cidade dele), o que surge agora é um torcedor que simplesmente abandona, em todos os sentidos, o clube da cidade para assistir futebol pela TV.
É pra isso que serve o Gauchão pros clubes do Interior.
Divisões Nacionais
Por tudo isso é que FGF e CBF deveriam criar divisões nacionais pra todos os clubes profissionais que estivessem dispostos a participar de um certame nacional. Nem que pra isso fosse necessário a criação da série Z. Mas sem fórmulas complicadas.
Um dos argumentos de quem é contra este sistema é a enorme extensão territorial do Brasil (e por isso altos custos em viagens). Mas quanto menor a divisão, mais regionalizada seria. A principal preocupação nestas divisões “menores” seria uma tabela que previsse nove meses de jogos. De março até novembro. Subindo de divisão, e consequentemente aumentando as distâncias, os clubes teriam maior aporte financeiro, tanto pelo bom momento, quanto por entrar numa divisão que tenha cotas de TV.
Poderiam fazer com que a última divisão nacional, fosse várias divisões, uma em cada estado. Campeão e Vice subiriam para a divisão subseqüente, que seria por região (região sul, por exemplo), ou a divisão seguinte seria a junção de dois estados lindeiros (RS e SC, por exemplo).
Outra boa sugestão li no blog O Século XX, de Sérgio Fontana. A sugestão do Sérgio:
“O Campeonato Gaúcho/2011 terminou para o Pelotas em 10 de abril. De lá para cá são mais de 75 dias sem jogar, e esse tempo ainda vai se estender, pelo menos, até o final de julho (...)
Baseado nesta realidade, questiono o calendário do Campeonato Gaúcho, cuja a fórmula e tabela é adaptada à disponibilidade dos times principais da dupla Gre-Nal, que a partir do mês de maio precisam estar livres para cumprirem os jogos do Campeonato Brasileiro.(...)
Penso que o Gauchão, assim como os campeonatos de todos os outros estados brasileiros, poderiam ser transformados em uma das séries do Campeonato Brasileiro, quiçá, uma Série E, que classificaria, por exemplo, 4 (quatro) clubes para a Série D do ano seguinte. Jogariam a tal Série E (ex-campeonato estadual) os clubes que não estivessem envolvidos nas demais séries do Campeonato Brasileiro. Isto quer dizer que, nos dias atuais, Internacional, Grêmio (Série A), Brasil de Pelotas, Caxias (Série C), Cerâmica, Juventude e Cruzeiro (Série D), não jogariam o ex-Campeonato Gaúcho, que seria transformado em um grupo da Série E, e poderia ser desenvolvido, por exemplo, de março a novembro. Os meses de janeiro e fevereiro ficariam só para a pré-temporada; o mês de dezembro seria o das férias dos atletas.
Todos os clubes jogariam o ano todo, e com objetivos bem definidos, sem mais invenções.”
Eu gosto do Gauchão, inclusive o maior título do Bagé foi nessa competição, mas não é possível seguir matando o futebol do interior gaúcho em nome da história.
Se Grêmio e Inter não concordarem, que façam um “super gauchão” (como tantos cronistas da capital adorariam, pois pra eles só se pode assistir “futebol de qualidade):
que organizem uma série melhor de 5. Ou quantos jogos acharem conveniente.
Ao final das “pugnas” que se declare o SUPER CAMPEÃO GAÚCHO.
Enfim, na prática isto já ocorre, salvo as duas exceções que todos sabem.
Para os clubes do interior seria a chance de obter um calendário com “ano cheio”, não ficar nove meses ou mais de um ano parado e principalmente ter objetivos que verdadeiramente trarão crescimento ao clube.
Do jeito que está, comemoram perder uma quarta de final pra um time da Dupla. Este é o “título” do ano e o ostracismo até janeiro. Se não mudarem isso o ostracismo será eterno, apenas colocando um time em campo para representar uma empresa e não mais um clube.
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Recebi um e-mail, através do blog, de Tiago Collares que trabalha na assessoria parlamentar do deputado Alexandre Lindenmeyer, que é também ex-presidente do Sport Club Rio Grande.
No e-mail, Tiago está divulgando uma audiência pública para debater o futebol do interior gaúcho, que será realizada dia 24 de agosto. Em virtude desta audiência, resolvi escrever o texto deste tópico.
AUDIÊNCIA PÚBLICA
FUTEBOL GAÚCHO: CONFIRMADA DATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA
Chegou a hora de amarrar as chuteiras e jogar junto por um futebol do interior mais forte no RS. Com a aprovação da proposição do deputado estadual Alexandre Lindenmeyer que visa discutir o “o futuro do futebol do interior gaúcho” pela Comissão de Educação, Desporto, Cultura, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa, o parlamentar definiu, no início desta semana, a data da audiência pública que pretende mobilizar a cena esportiva gaúcha.
Um dos principais assuntos da audiência será o documento intitulado Jogo Aberto que propõe algumas diretrizes para um debate democrático entre clubes, Sindicatos, Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Imprensa e Governo do RS.
O encontro será realizado no dia 24 de agosto, às 17h30min, na Sala João Neves da Fontoura (Plenarinho) da AL
O quê: Audiência Pública “O futebol gaúcho em debate";
Quando: 24/08, às 17h30min;
Onde: Assembleia Legislativa do RS - Sala João Neves da Fontoura (Plenarinho) – Porto Alegre-RS;
Público-Alvo: Dirigentes dos clubes da primeira, segunda e terceira divisão do futebol gaúcho, Sindicatos, Imprensa Esportiva, Torcedores e demais interessados no assunto;
Serão Convidados: Direções e Dirigentes dos clubes, Associação de Cronistas Esportivos Gaúchos (ACEG), Associação de Garantia do Atleta Profissional (AGAP), Sindicato dos Atletas Profissionais (Siapergs), Sindicato dos Treinadores Profissionais do RS (STPERS), Sindicato dos Árbitros de Futebol do RS (Safergs), Sindicato dos Empregados em Clubes e Federações (SECEFERGS), representantes de Torcidas Organizadas e a Federação Gaúcha de Futebol (FGF).