Eu imagino se hoje houvesse este tipo de costume entre os torcedores do interior, com passagens de trens baratas (em relação ao aluguel de vans e ônibus) e vagões inteiros ocupados por torcedores dos clubes do interior do Estado, dirigindo-se para acompanhar os jogos fora da cidade. O futebol do interior estaria em que patamar? O pior é pensar que esta época já existiu e que havia muita gente que apoiava incondicionalmente o clube da cidade, a despeito da raridade de títulos, desde a década de 40.
Mas era assim no interior gaúcho, principalmente na Metade Sul, naquela época e me pergunto se alguém possui ou tem conhecimento de alguma foto com essa gente, nestas viagens lendárias. Se alguém souber, que entre em contato, seria um belo resgate.
Mas nem tudo eram flores, mesmo naquela época dourada. Às vezes eram pedras.
O Dr. Jesus Ollé Vives, ardoroso torcedor do Bagé e que já ocupou cargos na diretoria jalde-negra inúmeras vezes, guarda um curioso impresso, que circulou nas mãos dos moradores de Livramento e Rivera, à época:
“Ao povo de Santana e Rivera:
A torcida rubro-negra convida a população das duas cidades a recepcionar ao famigerado quadro do Grêmio Esportivo Bagé à altura da maneira com que foram tratados os valorosos quartorzeanos quando excursionaram à cidade de Bagé.
Repugna aos nossos foros de cidade civilizada hospedar a horda de bárbaros bajeenses que, num atestado de incultura e vandalismo, traíram as tradições de hospitalidade dos rio-grandenses e, por isso, merecem o desprezo de todos os desportistas desta fronteira.
A torcida rubro-negra previne que assumirá atitudes de represália contra todos aqueles que, de uma forma ou de outra, facilitarem a estadia dos bajeenses em nossa cidade, quer hospedando, dando condição ou tratando com elementos da sua caravana.
Exige o bom nome das nossas cidades que os bajeenses sejam tratados como bárbaros e covardes que são.
Como será um dia de luto aquele em que o barbarismo chegar a nossa cidade, Santana estará vivendo um de seus dias mais tristes quando pisarem em terra santanense os representantes do Grêmio Esportivo Bagé.”
Os grifos no texto acima são meus, obviamente. Ocorre que na época era comum, junto com as excursões de trens, o apedrejamento dos vagões que traziam a torcida visitante, não só em Bagé. Contam também os mais antigos, que as sessões de pedras e brigas, podiam ocorrer em várias estações pelos arredores da cidade, antes do trem estar definitivamente a uma distância segura ou desestimulante.
Não sei o que houve com a torcida no jogo da volta, na matéria que conta sobre esta história não há relatos sobre, mas os jogos foram em 1951, 2 x 2 em Bagé, e 3 x 3 em Livramento, apesar do clima de guerra o Bagé não se intimidou. Pode-se notar que este artifício já é utilizado há bastante tempo no futebol e, assim também como hoje, nem sempre dá resultado em campo. O Bagé acabou eliminado da competição mais tarde, em Rio Grande, perdendo para o “vovô” por 6 x 0. E mesmo abaixo de pedradas e brigas, o futebol do interior era bem mais pujante no Rio Grande do Sul dos anos 40, e hoje sem pedras mas (perdoem o trocadilho óbvio) sob escombros.
Matéria via Jornal Minuano (Bagé-RS).
Fotos: http://www.estacoesferroviarias.com.br/ (na primeira, a Estação Central de Bagé nos anos 30 e na segunda nos dias atuais, agora funcionando como sede da Prefeitura Municipal).
Conforme for, vou adicionando outras.
Pena que não se pode colocar trilha sonor, ficaria muito pesado (aliás, este blog está com muitas "pop ups", a maioria das quais não sei a procedência. Mas vamos resolver isto).
De qualquer maneira, aqui está a trilha sonora (indicada) para assistir às "puras imagens":
http://www.sombreroluminoso.com.br/mp3/paraguay.mp3
Desfrutem.
Logo mais tem postagem, espero.
Sabem como é, aquela coisa de histórias em família.
Primeiro vamos esclarecer o significado de “Grêmio”, segundo o dicionário:
do Lat.Gremiu, s.m., comunidade;assembléia;corporação;associação;grupo.
Ou seja, no caso do Bagé, uma associação de futebol, denominada "Bagé".
Para exemplificar, seria o mesmo que chamar o Inter de “Sport Internacional”, o Brasil de Pelotas de “Grêmio Brasil” ou São Paulo de “Futebol Clube”, só para ficar nestes exemplos.
Vamos também nos valer da história.
O Bagé foi fundado em 1920. O Grêmio em 1903. Em 1920, o Grêmio não tinha nenhuma projeção que fomentasse alguma “cópia” pelo interior. Só havia um campeonato gaúcho disputado até aquele ano, o de 1919, e que foi vencido pelo Brasil. Em 1920, o vencedor foi o Guarany de Bagé [aqui é outro exemplo: pra quem acompanha o futebol do interior do RS, apenas grafar “Guarany” com “y”, já subentende-se que é o de Bagé). Além disso, nas décadas de 10, 20 e 30, clubes de Bagé, Pelotas, Rio Grande e Sant’ana do Livramento competiam de igual pra igual com os clubes da capital, inclusive no que diz respeito à contratações de jogadores. Bagé e Guarany, por exemplo, tiveram vários jogadores do Nacional e Penãrol em suas equipes nesta época de “plata” sobrando, já que a economia destas regiões ia muito bem.
Não havia torcedores do Grêmio Porto Alegrense ou do Inter em Bagé, e no interior, de maneira geral.
Outro fator que aponta para a desinformação quando tratam o Bagé por “Grêmio Bagé”, é que em 1906, o embrião do Bagé, também jalde-negro e de fundadores coincidentes do “Bagé de 1920”, foi batizado de “Sport Club Bagé”. Diriam hoje que seria uma cópia do homônimo de Porto Alegre, mesmo sendo o Inter de 1909.
Mas o Bagé, como alguns outros clubes do interior que coincidentemente têm o pré-nome igual à de um dos “famosos”, paga pela sua “falta de fama”.
Vejamos um exemplo emblemático do que estou escrevendo, que ocorreu num programa da TV Com (televisão de Porto Alegre do grupo RBS - pra quem é de fora do RS). O programa era apresentado pela Tânia Carvalho, coincidentemente bageense e torcedora do Guarany. O tema era futebol, estava lá inclusive o Ruy Carlos Ostermann, e lá pelas tantas falaram que um dos primeiros uniformes do Internacional tinha sido um listrado, vermelho e branco, e a Tânia Carvalho observou que era igual ao Guarany, mas todos concordaram que o Guarany é que havia se inspirado no alvi-rubro da capital.
Mesmo sendo jalde-negro, não resisti e liguei para a produção do programa para informar que o Guarany havia sido fundado em 1907 ! Não tinha culpa de ser menos famoso, o que é uma coisa, mas ter se inspirado no uniforme é outra. A não ser que os fundadores do Guarany fossem profetas e tivessem previsto tanto a fundação do Inter em 1909, como seu sucesso no futuro. Assim como os fundadores do Bagé, deveriam estar pensado: “vamos copiar o primeiro nome deste tal time de Porto Alegre, pois terão sucesso no futuro”, já que até 1920, ano de fundação do Bagé, Grêmio e Internacional eram apenas clubes incipientes, e que perdiam, títulos inclusive, para Bagé e Guarany.
Então este tipo de erro se repete, e vai se solidificando, por mais que se tente o contrário. Já enviei alguns e-mails à redações de esportes dos jornais de Porto Alegre cada vez que publicavam o “Grêmio Bagé”, mas algumas vezes as pessoas preferem se manter desinformadas, já que o assunto é “irrelevante” (no dos outros é talco) e dá muito trabalho retificar.
Outro que paga o preço do homônimo ser mais famoso é o Grêmio de Foot-Ball Santanense. Desse eu não posso afirmar categoricamente a intenção dos fundadores, já que não conheço a história do clube, mas parece ser o mesmo caso, já que foi fundado em 1913, e ainda por cima tem as cores vermelha e branca.
Então, o Bagé é BAGÉ, ou seu nome completo, Grêmio Esportivo Bagé, assim como o Internacional é “Internacional”, ou Sport Club Internacional.
E que eu pare de ler em Orkut e fóruns esta má combinação, não pelo nome, que faz parte do nome do Bagé, orgulhosamente para seus torcedores, mas porque leva o leitor desinformado a acreditar que o Bagé é uma espécie de cópia de algum outro time, no que diz respeito ao nome.
E pra esclarecer mais ainda os que não conhecem este clube, as cores são o amarelo e o preto, listrado.
Publique-se e divulgue-se!
Foto: os fundadores do Sport Club Bagé, em 1906, via Jornal Minuano (Bagé-RS).
O filme, bem, aí vai a sinopse:
"Um ídolo do futebol é expulso do time devido à acusação de ter manipulado um resultado e, logo depois, agride um policial e é preso. Ele recebe então a proposta para que treine o time dos guardas da prisão. Com Vinnie Jones".
Na verdade ele é "ex-ídolo, porque não joga mais e vendeu um jogo entre Inglaterra e Alemanha. A sinopse também não me deixou interessado no filme, mas como era sobre futebol...vamos lá.
O filme não é ruim, mas não recomendaria pra quem não está disposto a gastar R$ 2,50 num filme "normal". Mas tem alguns momentos.
Resumindo a coisa toda, acaba que ocorre um jogo entre presidiários e guardas na prisão inglesa onde está o ex-ídolo. Ele lidera o time dos presidiários. Tem alguns momentos engraçados, bastante clichês e mistura o mundo "da detenção" com o mundo futebolero.
A edição da partida entre "detentos x guardas" é longa, mas se tratando de "filme de futebol" até que as ações não são das piores (ao contrário de vários outros filmes). No caso deste, eles levam vantagem porque têm que representar um jogo amador, então se torna mais fácil lidar com falta de velocidade, etc. Ficou "ajeitado".
No elenco, quem assistiu ao "Snatch - Porcos e Diamantes" (um dos meus favoritos), irá reconhecer metade do elenco. Não sei se é por isto, mas na capa do filme na locadora, há uma inscrição que é do "mesmo diretor" de Snatch - Porcos e Diamantes...vendo a ficha técnica aqui, parece propaganda enganosa.
Além deles, aparece também Danny Dyer (foto ao lado) , que foi protagonista em "The Football Factory”, e apresentador do documentário que vou lincar abaixo.
Este não é ficção. Danny Dyer vai para a Turquia e mostra um dos clássicos mais selvagens do mundo, entre Galatasaray e Fenerbach, pela série "The Real Football Factory - International" . Tem um pouco de imagens do clássico turco no estádio e algumas entrevistas com os envolvidos, além de comentários do próprio ator/repórter. O ator, que não é bobo nem louco, vai com a torcida que é maioria no estádio, inclusive de jaqueta do time, que ele ganha na frente de um bar de torcedores. Mas o documentário é muito bom, ainda mais tendo como parâmetro o que (pouco) se produz sobre futebol. A edição é excelente!
O único "porém" é que esta versão que eu achei é sem legendas, não sei se existe outra legendada. Mas faz do limão uma limonada e além de assistir, treina teu inglês...ou só assista mesmo, as imagens são auto-explicativas, em grande parte dos casos.
Eu gostei bastante e como é uma série, assistirei os demais e depois comento por aqui.
TRFFI - Turquia
TRFFI - Argentina (ainda não assisti, depois comento)
Os relatos são incríveis, e vão desde dos hábitos etílicos dos freqüentadores, até peleias lendárias em virtude dos jogos que por lá ocorriam (jogo de osso, carteado, cancha reta, etc).
Nada envolvia futebol, para que eu relatasse aqui, até que ele lembrou de um jogo, um pequeno fato, mas que demonstra bem como a cultura local invade o futebol. Ocorre em todos os setores, mas o futebol é prodigioso no que diz respeito a incorporar a “localidade” na prática de um esporte que é internacional.
O jogo corria normalmente para os padrões deste rincão, muita pechada, canelada, berros dos jogadores e da assistência, futebol cru, a essência do que hoje chamamos de “futebol força” – futebol à força. Com os exageros das divididas, a coisa foi ficando mais ríspida que o normal, e os jogadores de ambas as equipes já deixavam a bola e a marcação do gol para o plano secundário: virou caça ao adversário. Nada que preocupasse platéia e “comissões técnicas”, era normal que os jogos terminassem assim. Mas em alguns casos, até o mais rude zagueiro pode ficar preocupado com o parceiro de equipe.
Lá pelas tantas, numa dessas “divididas”, um zagueirão que só dava bico pra longe, jogando sem camisa, com o cigarro apertado entre os dentes, ao ser driblado por um atacante, não vacila: em velocidade, acerta um chute potente, mirando apenas a perna do “driblador”, que já ia disparar em velocidade (o segredo dos atacantes destas bandas é a velocidade, muito mais que a técnica... dá pra entender).
A câmera é lenta. O grunhido é de ambos. Um solavanco e o vôo. E o que assustou a todos, inclusive os que estavam acostumados com estes jogos domingueiros de futebol: um “CRAC”!
Um barulho horrendo para sair da perna de alguém. Um som de osso estilhaçado, mas muito estilhaçado. Já pensavam em rumar pro hospital mais próximo.
O atacante, rola, a pancada fora realmente muito forte, uma, duas, três vezes...cai inerte por uns bons 5 segundos de apreensão e levanta, mexendo na meia atingida.
A platéia está atônita, e fica mais surpresa ainda quando o jogador saca de dentro da meia, rindo, pedaços de uma telha Brasilit. Era a “caneleira” do sagaz atacante que havia espatifado. A canela, “intacta”, considerando a violência da pancada.
Primeiro, gargalhadas, depois aplausos efusivos da claque.
Eu apenas lamento não haver imagens destas pérolas que ocorriam nos campos do sul.
Mas a frase foi quase uma história, ou uma história, realmente. Reproduzo a frase aqui, em espanhol, pois postar ela traduzida seria um crime. Lendo vocês irão entender.
Então, que fale José Luis Calderón*:
"Hace unos años fui con mi pibe a una compra venta de un amigo de la infancia, de la villa. Bueno, llegué, un lío bárbaro, nos fuimos a tomar unos mates. Y ahí, entonces, el tipo me dijo que no tenía sillas.
"Y pasame un cajón, boludo", le tiré.
Al rato mi pibe pidió una gaseosa y mi amigo me dijo que no tenía vaso de vidrio.
"Y que tome del pico", le contesté.
Y así... Cuando nos fuimos mi pibe me dijo: "Papá, son muy pobres".
Paré el auto en seco. Lo miré.
"Escuchame una cosa, pendejo de mierda y la concha de tu madre, qué te pensás que sos, ¿millonario? ¿Sabés dónde vivía yo, pelotudo?", le dije.
Y lo llevé a la villa. Y le mostré mi casa, con el baño [banheiro] a 30 metros. Ahora se adapta a todo".
E o que tem isto com futebol? Tudo.
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* O autor da frase é José Luis Calderón, jogador argentino, e podem saber mais dele na Wikipédia, em:
http://es.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Luis_Calder%C3%B3n
O Puro Futebol recebeu uma indicação ao Prêmio Blog Solidário. A indicação é feita por outros blogs de futebol, que contribuam com a internet futebolera (sem incentivos financeiros), e no nosso caso, quem nos indicou foi o blog Futebesteirol. Agradecemos sinceramente a indicação e abaixo vai a lista das indicações do Blog.
Ao fazer esta lista notei duas coisas: que a maioria dos blogs que lembrei são argentinos, mas resolvi deixar assim mesmo porque na verdade sou relativamente um novato na blogsfera, e talvez por isto a minha lista de leitura não seja extensa. E a segunda coisa é que de blogs brasileiros, pouco leio além dos blogs relacionados na lista de links ao lado.
Tenho que ler mais os blogs futeboleiros nacionais, tem muita coisa boa pra ser lida, certamente.
Novamente, muito obrigado ao Futebesteirol.
- Futebesteirol
- Jogos Perdidos
- Crônicas de Uma Paixão
- Fútbol Ochentoso
- Joga Feio
- Intelectual Fútbol
- Frases Futeboleras
Dêem uma passada pelos blogs (mesmo os em língua espanhola), são bem interessantes.
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* Condiciones y bases de participación:
1.- Escribir un post mostrando el PREMIO y citar el nombre del blog que te lo regala y enlazarlo al post que te nombra. (De esta manera se podrá seguir la cadena).
2.- Elegir un mínimo de 7 blogs que creas que se han destacado alguna vez por ayudar, apoyar y compartir. Poner sus nombres y los enlaces a ellos. (Avisarles).
3.- Opcional. Exhibir el PREMIO con orgullo en tu blog haciendo enlace al post que escribes sobre él y lo otorgas a otros.
Não mudei por vontade própria, é que na última semana as postagens apareciam "desformatadas", os links foram para o final da página e ficou muito desorganizado, apesar de eu não ter alterado nada (acho que o blogger danificou o modelo anterior).
De qualquer maneira, salvei o "código" do visual anterior e se os problemas acabarem, retornarei com ele.
Por enquanto fica este, que não gosto, mas admito ser bem mais fácil manipular.
E na verdade o principal é o texto (rogo!), mas um "layout" que não me agrada tanto é irritante.
É mais do mesmo com as cores diferentes, peço a compreensão de todos.
Mas saliento: foi uma mudança compulsória.
A notícia do leilão do estádio do Gaúcho de Passo Fundo foi veiculada em vários sites e vocês podem ter um resumo da história no blog
Futebesteirol.No caso específico do Gaúcho há ainda uma tragédia acontecida nas piscinas do clube, indenizações não cumpridas, etc., mas o clube se junta ao melancólico cenário que vive o futebol do interior do Rio Grande do Sul, de maneira geral.
A penúria se traduz nas finanças mas também, e talvez principalmente, resulta da “globalização” das torcidas do interior. O mal só não é maior, porque diferentemente de outros Estados, o torcedor do interior gaúcho quando torce por outro “grande” que não seja de sua cidade, opta por Inter ou Grêmio, diferentemente do acontece em vários outros Estados, com torcedores apoiando times do Rio de Janeiro e São Paulo (como acontece na maioria dos Estados nordestinos, por exemplo).
Mesmo assim, os efeitos já são visíveis deste abandono por parte dos torcedores dos times do interior gaúcho. A sedução de torcedores do interior é fácil de entender: de um lado a fartura de títulos e mesmo na ausência destes, a televisão consolidou as marcas da dupla Gre-Nal, e o que ocorre no interior (na melhor das hipóteses) é que o torcedor tem sempre o clube da cidade como preferido e junto a este faz a opção por um time da capital. Há casos de torcedores que se dedicam com a mesma paixão para seus dois clubes, mas infelizmente na maioria das vezes o clube do interior é relegado a um segundo plano. E ainda se não bastasse a influência da TV, a dupla Gre-Nal descobriu o caminho do marketing e através dele atrai associados do interior do Estado, venda de artigos dos clubes, etc.
E o futebol do interior também não se ajuda. Pouco ou nenhum marketing, administrações falhas e poucos abnegados tentando tocar o barco, cada vez com menos “tripulantes”. A exceção é o Juventude, que inicialmente cresceu com a parceria com a Parmalat e depois dela se sustenta com a participação no Brasileirão.
Uma pena este definhamento do futebol do interior, pois inclusive a partir dele a dupla Gre-Nal construiu seu estilo de jogo, o futebol gaúcho se tornou o que é a partir dos campos do interior.
As perspectivas são as piores. Todo início de Gauchão há a polêmica sobre o número de jogos ser excessivo para a dupla Gre-Nal, que usarão reservas na maioria das partidas, etc. Por outro lado, há o discurso que nenhum dos grandes quer perder o Gauchão e que é sempre bom ganhar do tradicional rival. O resultado na prática é que os clubes do interior que disputam a primeira divisão do Gauchão, tem futebol por apenas 3 meses (para os que passam da primeira fase), e depois um longo recesso que vai até setembro, onde disputam a Copa FGF (este ano denominada Copa Paulo Rogério Amoretty, em homenagem ao ex-presidente colorado), copa que é desvalorizada pelas próprias torcidas do interior, talvez porque a dupla Gre-Nal não participe com seus times principais. Para os que disputam a Segundona, aí o calendário é maior (março-setembro), mas o campeonato é deficitário ao extremo.
O problema é que os times do interior da 1ª divisão concordam com este calendário. O torcedor do interior fica com 3 meses de futebol, e depois assiste fartamente jogos da dupla Gre-Nal, em torneios muito mais importantes, em estádios melhores, em jogos mais decisivos e acompanha pelos jornais, rádios, internet, conversas de boteco tudo sobre a dupla Gre-Nal. O time dele, do interior, esquecido. Por 9 meses. Uma gestação. A gestação da paixão por outro clube que não o da sua cidade. Mas os clubes, por um motivo, inevitável ou não, aceitam o calendário proposto, ano após ano. E suas torcidas definhando, em número e em fanatismo.
O interior também comete o erro de não cultuar seus ídolos. Para ser ídolo, só se não for da cidade. Só se aparecer na TV e falarem na rádio da capital. Então lotam cinemas para assistir partidas da dupla, mas não colocam uma arquibancada cheia em jogos do time da cidade. A camisa do clube da cidade é “cara” (isso quando as direções disponibilizam nas lojas especializadas), mas não pensam duas vezes em pagar R$ 150, R$ 180, por camisas de “times grandes”, até europeus. E assim alimenta-se o círculo vicioso.
Não é nada bom o futuro de todos os times do interior do Rio Grande do Sul. Que esqueçam o Gauchão (que dá no máximo uma partida de casa cheia numa semi-final qualquer) e que lutem para disputar a Série C do Brasileiro para a partir daí, quem sabe um dia, chegar na Série B nacional, está sim, muito rentável para o clube (se tratando de um time interiorano).
Então o SC Gaúcho tem seu patrimônio perdido e fecha suas portas, mas está acompanhado de muitos outros que só não estão formalmente nesta situação, mas de fato, fecharam suas portas. Clubes tradicionais como Grêmio Santanense, Rio-Grandense (Rio Grande), Guarani de Cruz Alta estão fechados. Outros vão e voltam, de tempos em tempos e muitos estão se encaminhando para mais cedo ou mais tarde abandonarem os campeonatos oficiais, para depois nem torcedores ter.
Infelizmente não sei a solução ideal também, mas algumas atitudes já deveriam ter sido tomadas para a revitalização do futebol interiorano. Que seja rápido.
Que os torcedores da dupla Gre-Nal pelo interior sigam torcendo para a dupla, não há nenhuma crítica, mas que gastem também com seus times do interior...eles não pedem muito: uma camisa, um ingresso e talvez alguma mensalidade de 20 ou 30 reais, ou se não der, apenas um destes. A retribuição é sempre certa. Com futebol aos domingos, ao vivo, não enlatado, representando tua cidade de origem.
No título do tópico do Futebesteirol que trata do fechamento do Gaúcho, o autor (Maurício Brum) foi muito feliz: “A morte de um Gaúcho”. E com o clube, morre uma importante parcela do futebol gaúcho também.
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1ª Foto: autor - Gatuzo (via Flickr.com)
2ª Foto: Ultras do Bréscia.
E esta certeza vem coberta de razão.
- Olha lá, é o oitavo carrinho só no segundo tempo!
- Será que ele não percebeu que estamos jogando no paralelepípedo?
- Acho que ele não se machuca...
- A julgar pelas cicatrizes nas pernas, machuca...
Futebol-arte x Futebol-força
Drible x Marcação
Toque de bola x Chutão
Juramos a mesma bandeira, vivemos sob a mesma constituição.
Somos patrícios e jogamos, teoricamente, o mesmo jogo. Por que o futebol gaúcho é tão diferente do futebol no restante do Brasil?
Temos a vizinhança, que certamente ajuda. Quem já jogou uma pelada contra argentinos sabe que é matar ou morrer. (Já joguei e este texto não é psicografado).
Há a questão da temperatura – muito calor no verão, muito frio no inverno (mudanças assim gritantes obrigam os praticantes a valorizar a força e a condição física).
Há a cultura peleadora ocasionada – creio – pela variedade étnica no Rio Grande: a teimosia teutônica, a grosseria italiana, a força física africana, o sangre caliente espanhol e a raza rioplatense. Isso só pra citar os mais comuns.
Mas o principal, a meu ver, é que todo o gaúcho vê no futebol uma chance de representar o “continente”. O riograndense – cada um – sente-se o embaixador sulino quando fora do âmbito regional.
O brasileiro espera dele futebol-força e ele confirma as expectativas. Geralmente com certo exagero, é claro.
Esta necessidade de ser ultragrosso me fez lembrar de alguns dos antigos heróis do Rio Grande. Jogadores que levaram o pavilhão gaúcho para além-fronteiras. Atletas da mais alta estirpe, cujos grandiosos feitos nos deixam cheios de orgulho e admiração.
Recordo-me do grande Latorre, filho de pai uruguaio e mãe índia. Zagueiro central e cria de Santana do Livramento. Atuou por meia década num time local até ser descoberto por um olheiro – no tempo em que os clubes tinham olheiros – de tradicional time carioca.
Jogou lá por quase dois anos, contabilizando 3 pernas quebradas, 11 expulsões de campo, 1 agressão a gandula e 1 saída algemada do estádio
Acabou seus dias de jogador em famoso time bageense, intercalando expulsões por falta violenta, com expulsões por insulto à arbitragem.
Hoje atua como comentarista de futebol no bolicho do Guedes, em Livramento, mas no momento encontra-se suspenso pois ainda não pagou os 12 martelinhos que deve.
Tem também o inesquecível Rodrigues Ramos, que jogava ali pelo meio, na contenção (de corpos) e na distribuição (de faltas).
Verdadeiro herói em sua cidade natal – Dom Pedrito – este atleta teve destaque em tradicionais equipes riograndeses.
Em 1971, na véspera da final do certame gaúcho (a data é mera alegoria, posto que Rodrigues Ramos jamais disputou uma final de campeonato), este grandioso expoente do futebol-força teve sua carreira interrompida para sempre: teve as duas pernas quebradas por capangas logo após tentar uma abordagem mais incisiva em uma festa de debutantes.
A moçoila era a filha do Delegado da cidade e estava entre as convidadas. Sua festa de 15 anos ainda demoraria mais alguns anos...
E, por fim, não posso deixar de citar o lendário Schneider González.
Centroavante de origem teuto-rioplatense, medindo 1,97 e pesando 110 quilos, logo se destacou em laureada facção esportiva da Fronteira Oeste, na sua cidade natal e de onde jamais saiu.
Agregou durante os mais de 25 anos de carreira as funções de Delegado de Polícia e camisa nove. Durante 25 anos seu time foi campeão municipal. Durante 25 anos nenhum bandeirinha viu impedimento seu.
No último jogo da carreira – contrariado, mas acatando desesperado pedido da família para que parasse – lá pela casa dos 45 anos de idade, desabafou ao repórter que o entrevistara, após marcar o gol do vigésimo quinto título consecutivo, em impedimento:
- Solamente veinte y cinco años... muy lindo el Reich, pero que muy breve...
Este é o futebol gaúcho: sempre unindo todos os povos e destacando o que eles têm de melhor!
______________________
* Por Maurício Kehrwald
Nesta entrevista, Rocha conta alguns fatos bastante interessantes ,fala daquela época, do Bagé e sobre futebol de maneira geral.
Fica aqui nosso agradecimento ao capitão Paulo Roberto pelas excelentes respostas na entrevista e por tudo que realizou defendendo a camisa amarela e preta. Nosso sincero “muito obrigado”, de toda a torcida jalde-negra.
Sempre foi melhor estar em campo, pois as coisas poderiam depender do teu esforço...na torcida, dependemos dos esforços dos outros. E isso nos faz sofrer demais.E com o Tiago em campo, aumentava mais essa agonia. Mas ele sempre soube representar muita bem a garra jalde-negra, aliada a uma grande capacidade de visão coletiva e habilidade individual, e isso me enche de muito orgulho. Por isso galgou a capitania em campo (outro motivo de satisfação).
Qual sua opinião sobre o futuro do futebol do interior? Existem coisas que podem ser melhoradas na sua opinião para o crescimento dos clubes e torcidas?
Nossos agradecimentos ao Duda, que de maneira muito solícita e rápida respondeu aos questionamentos do blog.
Gracias, Duda!
Troca de passe
Time:Inter
Maior ídolo no Inter: Pra mim, Figueroa
Título inesquecível: Campeão do Mundo
Jogo inesquecível: Inter e SP pela final da Libertadores
Cadeira ou arquibancada? Arquibancada sempre, mas sei que o projeto é colocar cadeira no Beira-rio, acho isso ótimo, quando falo arquibancada falo daqueles setores que o ingresso é mais barato, e não da arquibancada de cimento em si.
Maior virtude num jogador: Inteligência futibolística, não confuda com a inteligência comum, a futibolística é exclusiva daquelas 4 linhas, exemplo: Mané Garrincha, era um gênio com a bola nos pés, brincava com ela, era até displicente ás vezes, o que gerava muitas críticas,uma vez perguntaram se ele gostava mais de driblar ou de fazer gols, ele disse: _Driblar ué!
Quando um jogador de inteligência futibolística sai das 4 linhas, ás vezes não consegue nem falar direito, construir uma frase que seja, mas ponha a bola nos pés dele e tu verá a genialidade brotando a cada passo.
Pior defeito num jogador: Fingir que é bom de bola, tem uma cambada aí fingindo.
Futebol força ou futebol arte?
Alguma loucura já feita pelo teu clube?
Quem sobe este ano na Série B do Gauchão?
O clássico mexe com todos, ele tem a função de tirar a teia de aranha da mente dos mais desligados por futebol, e faz você lavar aquela camisa velha e esquecida no fundo do Armário, e se preparar para o Jogo.
Site de futebol: Gosto de sites sobre camisas de futebol, tenho uma coleção muito grande mesmo, mais de 350 peças.
Duda, falando da rivalidade Gre-Nal. Na música "Sexo, Algemas e Cinta Liga", tem um trecho que diz: "não importa que seja oriental... mas que torça pro Internacional". Esta mesma música foi o primeiro clipe da banda que tocou inclusive nacionalmente (via MTV). Na hora de compor e de escolher como música para vídeo-clipe, chegaste a recear ter alguma antipatia por parte da torcida do Grêmio? E ao contrário: muitos colorados e fãs da banda comentam contigo sobre a letra?
E os Gremistas dizem:“Esta música foi o Duda que fez, mesmo porque ele é o único que não é gremista da Tequila”.
Ainda sobre "Sexo, Algemas e Cinta Liga". Futebol e rock formam uma parceria bem interessante. Mas muitas vezes pode resvalar no artificialismo, músicas "sob encomenda", etc, justamente ao contrário do trecho citado da "Sexo, Algemas” que soa tão espontânea.Não pensas em voltar ao tema em próximas músicas?Não sei mesmo, não fiz a música pensando nisso, foi pela rima mesmo Oriental/internacional.
Na torcida do Grêmio existe uma faixa em alusão ao AC/DC. Na do Inter existe uma do Ramones. A faixa não é tua, é? O que achas desta "tendência" do pessoal levar a paixão roqueira nas cores do clube para dentro do estádio?
Acho o Máximo, parabéns ao Gremista que fez a faixa do AC/DC e ao Colorado que fez a dos Ramones, façammais faixas, no exterior isso é muito comum.
Outro paralelo entre rock e futebol. No Rio Grande do Sul temos várias peculiaridades. Na música praticamente se criou aqui um mercado próprio (no sentido de não depender exclusivamente do centro do país, ainda que seja importante). Várias bandas surgiram da metade dos noventa para cá, e sobreviveram através do "mercado interno gaúcho" (apesar que muitas tenham atingindo o resto do país, como no caso da Tequila). No futebol, de certa maneira, existe uma situação análoga. Os dois maiores clubes daqui tinham tudo para ser clubes periféricos, mas em termos de conquistas não é isto que se apresenta. Creditas esta situação também a peculiaridades gaúchas? Aproveitando a tua formação como historiador, também pergunto: as características do povo do RS foram relevantes para estas conquistas ou isto seria apenas mais uma demonstração do famoso bairrismo gaúcho?
No RS sempre é nítida a bi-polaridade em assuntos que mechem com a paixão. Chimangos e Maragatos, Farroupilhas e Legalistas, e até quando Vargas chegou ao poder, mesmo sendo conterrâneo, aqui no RS não era unanimidade. Acreditas que isto é trazido para dentro dos clubes gaúchos? É a maior rivalidade do país?
Pensei que o Grêmio faria isto contra o Boca Juniors, achava que o Grêmio conseguiria agora nesta libertadores, de verdade, mas levando-se em conta que saíram de uma segunda divisão e chegaram numa final, eles se superaram mesmo não é? É a rivalidade, tu luta para superar o outro sempre, ta dando resultados.
A tradicional mensagem final ou algo que não foi perguntado:
Em campo, o jogo caminhava para o final, com 2 x 1 para o Tigre, que lhe dava a vaga e rebaixava o Nueva Chicago, quando é marcado um pênalti para o Tigre, que sacramentaria o desfecho da partida.
A partir daí, torcedores do Nueva Chicago (mandante da partida) invadem o campo e começam a agredir os cerca de 3.500 torcedores do Tigre, que não tiveram tempo de comemorar o desejado acesso à primeira divisão. A violência se mostrou com arremessos de paus, pedras, placas publicitárias e qualquer objeto mais contundente.
Se observarem o vídeo postado logo aí abaixo, verão cenas lamentáveis, pois além da briga entre torcidas, a torcida do Tigre ficou encurralada num canto do estádio, enquanto era alvejada por paus e pedras, arremessados por torcedores do Nueva Chicago que se encontravam dentro do campo. Entre a torcida do Tigre nota-se que há mulheres e crianças, que nada podem fazer para se proteger e fugir das pedradas, a não ser levantar o casaco e tentar cobrir a cabeça.
Os policiais pouco fazem (segundo reportagem do Clarín eram 350, mas pareciam menos, pelo menos no foco da confusão), e se observarem no vídeo, em certo momento parte da torcida do N. Chicago que invadiu o campo sai em disparada para o sentido inverso da confusão, e começa a sair do campo. Infelizmente saiam não por terem sido expulsos pelos policiais, mas sim porque observavam que os torcedores do Tigres começavam a conseguir abandonar as arquibancadas, e o objetivo dos que correram de dentro do campo, ao que parece, era continuar a briga fora do estádio, o que acabou ocorrendo.
O saldo futebolístico foi a queda do Nueva Chicago para a B e o acesso do Tigre para a A no argentino.
O saldo da violência, além de demonstrar despreparo da polícia lá presente, foi de 14 feridos e 78 detidos.
A nota mais trágica do ocorrido foi a morte de um torcedor do Tigre, de 41 anos, por traumatismo craniano, por causa de uma pedrada.
Mas pelas imagens da batalha campal de ontem e que se seguiu pelas ruas, pode-se dizer que poderia ter muito pior, como em outras tragédias.
O jornal Olé descreve no trecho final de sua reportagem:
"Desde la platea se escuchaban estallar los vidrios de de los autos; las narices y ojos picaban cuando el viento arrimaba los resabios del gas lacrimógeno disperso afuera, y un humo negro se veía a lo lejos: en Corrales y Cárdenas uno de los micros ardía en llamas. El resto de la caravana de Tigre era apedreada en Gral. Paz y Corrales, donde la batalla fue feroz. Tanto que el tránsito de la avenida se frenó por completo cuando la gente cruzaba, con cascotes en sus manos.
Sangre y muerte.
Todo está en manos del Juzgado de Instrucción Nº 2, a cargo del juez Omar Aníbal Peralta. Quedó la tragedia..."
Fontes:
http://www.clarin.com/diario/2007/06/25/um/m-01445126.htm
http://www.ole.com.ar/notas/2007/06/26/01445435.html