As respostas do Capitão são belíssimas e mesmo para os que não são torcedores do Bagé, é uma ótima oportunidade para conferir como nascem as paixões futebolísticas, ainda que por times que não comparecem tanto na mídia.
Além disto, Rocha conta um pouco como era o futebol gaúcho nos anos 70. Recomendo fortemente a leitura, pra torcedores de todos os times, mas que acima de tudo gostam de futebol.
Puríssimo.
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O site jalde-negro entrou em contato com o Capitão Paulo Roberto Rocha para a realização desta entrevista que os torcedores jalde-negros poderão conferir abaixo.Paulo Roberto Rocha é um dos maiores ídolos da história do Grêmio Esportivo Bagé e foi capitão da equipe que conquistou o inesquecível título da Copa Governador do Estado de 1974.
Nesta entrevista, Rocha conta alguns fatos bastante interessantes ,fala daquela época, do Bagé e sobre futebol de maneira geral.
Fica aqui nosso agradecimento ao capitão Paulo Roberto pelas excelentes respostas na entrevista e por tudo que realizou defendendo a camisa amarela e preta. Nosso sincero “muito obrigado”, de toda a torcida jalde-negra.
Nesta entrevista, Rocha conta alguns fatos bastante interessantes ,fala daquela época, do Bagé e sobre futebol de maneira geral.
Fica aqui nosso agradecimento ao capitão Paulo Roberto pelas excelentes respostas na entrevista e por tudo que realizou defendendo a camisa amarela e preta. Nosso sincero “muito obrigado”, de toda a torcida jalde-negra.
Dados Pessoais:Paulo Roberto Rocha
Nascimento: em Porto Alegre, no dia 27 de junho de 1951.
Carreira 1967 - infantil do Grêmio Porto-alegrense
1968/1969 - juvenil do Grêmio Porto-alegrense
1970 - profissionalização
1970 - Náutico de Rio Pardo
1971 a 1979 - Bagé
Posição: Ala (atuava tanto na esquerda como direita)
Formado em Educação Física pela Urcamp e professor estadual em atividade, atualmente leciona na Escola Waldemar Amoretty Machado, em Bagé. _________________________________________________________
Sobre seus dados pessoais, Paulo Roberto Rocha acrescenta:
"Apenas um reparo quanto á minha posição em campo.Nos meus tempos de guri, em times de várzea, comecei como lateral esquerdo. Quando fui para o Grêmio nas categorias de base, atuei na zaga, o mesmo ocorrendo no Náutico de Rio Pardo.Quando cheguei em Bagé, era zagueiro, com a chegada do Galego, fui deslocado para lateral direita.Naquele tempo éramos laterais, ala é coisa mais moderna, apesar de fazermos a mesma função, e ainda voltarmos para marcar".
Como ocorreu sua vinda para o Bagé?
Lá em Rio Pardo jogavam vários jogadores que eram, ou haviam jogado aqui.(Nilson goleiro, Walter, Osmar irmão do Carlinhos, Casemiro, Celmar, Baiano, Danúbio, Amarante).Quase vim para o Guarani, junto com o Claudionor, desisti na ultima hora (não queria me afastar de perto de Porto Alegre) Mas o Náutico estava fechando e aceitei o convite do Bagé, através do Jacob Sued e do Dr. Roberto Garrastazú, e vim junto com o Amarante.
Observando algumas imagens da conquista da Copa Governador, nota-se que já à época o título foi extrema e justamente valorizado pela torcida - inclusive com invasão de campo -. Os jogadores daquela grande equipe tinham a real dimensão do título conquistado e da importância que ele viria a ter a partir dali na história jalde-negra?

[Na foto acima, Rocha ergue a Taça Governador do Estado]
O Bagé sempre impôs muitas dificuldades aos adversários, principalmente na Pedra Moura, e nos anos 70 inclusive contra a dupla Gre-Nal. Qual era a maior virtude da equipe Campeã de 1974 (e da base que seguiu nos outros anos) e dos jogadores que por ela atuaram?
Minha resposta de cima, ajuda a responder esta. A era Galego no Bagé, se caracteriza por essa persistência e teimosia de estar sempre exigindo o nosso limite máximo. Lembro que suas preleções sempre iniciavam assim: ”Hoje é um jogo” chave ““.Se contra os outros...Era jogo chave... Contra a dupla Gre-nal (jogo que estaríamos na vitrine de toda imprensa gaúcha) era o jogo de nossas vidas.
A famosa garra das equipes do Bagé, de maneira geral, e particularmente do grupo que o senhor participou nos anos 70, juntamente com a técnica, é sempre lembrada. Era um grupo diferenciado em termos de aplicação e luta?
Sempre foi estilo Galego, essa determinação em buscar o melhor resultado. Diziam que ele como jogador corria o campo todo, motivando e mostrando aos seus companheiros que deveriam fazer o mesmo. Acho que ele teve a sorte e competência de juntar os jogadores certos aqui no Bagé. Eu perdia em média de 2 a 4 kg por partida, mas muitas vezes era poupado nos treinamentos. Sem um preparador físico formado...Era ele o responsável.Juntam-se ao Galego...O trabalho de toda direção...Presidentes como Luis Carlos Alcalde, Julio Machado, Pedro Dirceu, Liader Previtali, diretor de futebol como José Pedro de Melo Fuchs, não se encontram a toda hora.
Entre as fotos dos anos 70 (publicada recentemente no Jornal Minuano) há uma (inclusive muito apreciada pelos jovens torcedores do Bagé), em que o senhor aparece erguendo o braço direito com o punho cerrado. Foi algum tipo de manifestação? Fale um pouco sobre esta foto.
Não recordo em que momento é aquela foto. Mas pode ser na hora de um gol...Ou em um final de partida ganha.
Sobre os clássicos Ba-Guá nos anos 70: algum marcou mais na memória? Como era este confronto para o senhor?
Meu 1º Baguá foi o mais importante. Fazia 4 anos que o Bagé perdia pro Guarani,e ganhamos de 1x0 gol meu .Fui escolhido o melhor em campo, e recebi muitos presentes. Sempre dei muita sorte nos clássicos.
Algum fato pitoresco ou engraçado que o senhor lembre nestes anos como jogador? (ou alguma "fria" enfrentada neste interior gaúcho)
Vários... Logo que cheguei no Bagé (antes do Galego vir) passei por alguns fatos interessantes...Minha chuteira quebrara o solado, e fiz muitas partidas com ela me “beliscando” a sola do pé. Não tinha dinheiro para outra.Nossa alimentação era: de segunda á quinta arroz com repolho refogado, na sexta ao se aproximar do jogo do fim de semana...Arroz, feijão e um bife á milanesa, sábado e domingo...Comida de jogo da época: arroz, bife purê e salada de tomates.Nas viagens, íamos em duas Kombi, jogadores,roupeiro e massagista...Quem já viajou de Kombi sabe que os bancos não têm encosto para cabeça...Já pensou ir e voltar á Passo Fundo? De engraçado não tem nada, mas serve para medir as mordomias de hoje.
Qual a fato mais marcante vivenciado pelo senhor nestes anos como jogador do Grêmio Esportivo Bagé?
Muitos...Foram 8 anos como jogador do Bagé.Lembro quando realmente me tornei jalde-negro de verdade. Foi no meu 1º Baguá (aquele que fiz o gol da vitória). Não lembro que jogador do Guarani veio me gozar, retruquei, e ouvi dele, que nem distintivo nos tínhamos na camiseta (era verdade). Lembro que entrei no vestiário no intervalo do jogo, irritado com aquilo, comentei e quase exigi do “seu Paulo” (Galego) uma camiseta decente para o próximo jogo.No 2º tempo e tendo feito o gol da vitória passei por esse jogador e falei que nosso distintivo tava no nosso peito...Por baixo da nossa pele...Nosso distintivo era nosso coração.Ali nascia mais um jalde-negro.[grifo meu]
Um gol e/ou partida inesquecível:

Qual a diferença que o senhor observa entre a época do titulo da Copa Governador do Estado e os últimos anos no futebol profissional de Bagé, em termos de torcida, mobilização da comunidade e entusiasmo?
Eu posso dizer que no meu tempo, nossa torcida era mais tradicional, pois era mais velha, e não menos apaixonada como é hoje. Noto que hoje os torcedores mais entusiasmados são mais jovens, que torcem pelos resultados obtidos em campo, e não pela história do clube ou pela rivalidade com os adversários. Esta mesma torcida de hoje, que são na maioria jovens e, portanto mais efusivos, terão com certeza o mesmo perfil daqueles do meu tempo, com o passar dos anos. Quando presente nos jogos de hoje, noto que a “corneta” é bem mais pesada, inclusive saindo do nosso próprio pavilhão. E isso chega aos jogadores dentro do campo, sempre de forma negativa. A torcida deve apoiar mais, nos piores momentos, pois isso além de fortalecer a equipe dentro do campo, mostra ao adversário, que eles estão em minoria. Lembro de muitas vezes sermos aplaudidos, mesmo nas derrotas. Era só notarem que havíamos demonstrado luta.Tudo são seqüências...Com um bom time virão as conquistas... Com as conquistas, o respeito e admiração do torcedor...Com o torcedor as boas rendas...Com as rendas, melhores condições de ter time competitivo...Com um time competitivo, ajuda e entusiasma a comunidade. Um depende do outro.
Nos fale um pouco sobre a emoção de ver seu filho vestindo a camisa jalde-negra e também carregando a braçadeira de capitão. Há nervosismo? E se há, é mais difícil apenas torcer do que estar em campo?
Sempre foi melhor estar em campo, pois as coisas poderiam depender do teu esforço...na torcida, dependemos dos esforços dos outros. E isso nos faz sofrer demais.E com o Tiago em campo, aumentava mais essa agonia. Mas ele sempre soube representar muita bem a garra jalde-negra, aliada a uma grande capacidade de visão coletiva e habilidade individual, e isso me enche de muito orgulho. Por isso galgou a capitania em campo (outro motivo de satisfação).

[na foto ao lado, Tiago Rocha]
Qual sua impressão sobre o futebol atualmente? O senhor costuma ir a estádios, assiste pela TV, ou se mantém mais distante?
Tudo ajuda hoje para que se jogue melhor o futebol, a bola, os gramados, os salários (dos grandes clubes) os uniformes, as concentrações, os melhores hotéis, as chuteiras, as viagens, tudo. Até a variedade de jogos transmitidos pela tv ajudam no aprendizado, nas informações que chegam de todos cantos do mundo.Claro que tem muitas coisas para serem aperfeiçoadas...Mas não dá para fazer comparações com antigamente nestes itens que enumerei.Estive presente no estádio todos estes anos que o Tiago jogou pelo Bagé. Agora estou um pouco afastado, mas acompanho pelo rádio sempre.
Qual sua opinião sobre o futuro do futebol do interior? Existem coisas que podem ser melhoradas na sua opinião para o crescimento dos clubes e torcidas?
Qual sua opinião sobre o futuro do futebol do interior? Existem coisas que podem ser melhoradas na sua opinião para o crescimento dos clubes e torcidas?
É uma pena ver o interior enfraquecido. Pra mim, tudo começou, quando a dupla Grenal se desinteressou do Gauchão. Muitas vezes comparecem com times reservas, pra eles é muito mais vantajoso financeiramente outro campeonato. O interior sempre dependeu deles para vender bem seus jogadores, para terem boas rendas. Um jogo contra a dupla, muitas vezes colocava os salários em dia, a mídia comparecia e atletas e clubes eram notados. Outra coisa são as trocas constantes de planteis, existe uma perda de identidade clubisticas por parte dos atletas. Parece que antigamente pegava-se mais amor ao clube, torcedores sabiam de cor as escalações do seu time e do adversário (as rendas muitas vezes eram melhores por que queriam também ver os bons jogadores do time visitante).Não tem como recuperar esses pequenos erros, uns foram levando aos outros, e o acúmulo causou esse caos no futebol interiorano. Não saberia apontar a solução, pelo imenso mal causado, a não ser, dizer que as soluções existem, mas interesses maiores, parecem que obstruem esses caminhos. A crise é geral, e o futebol do interior mostra isso a cada ano. Os grandes estádios estão sendo diminuídos em suas capacidades, porque não conseguem mais enchê-los de torcedores. Dói ver um jogo do Bagé, com a geral vazia.Parece-me que uma das maneiras de puxar os torcedores ao estádio é ter em seu time, um craque, que esteja identificado com o clube. O torcedor gosta de ver esta diferença, é ela que vai lhe levar ao estádio.Todo ídolo muitas vezes acaba se tornando automaticamente um líder, e com isso contagia o resto do grupo.Desde que seja uma liderança positiva. Outra coisa que sempre acreditei, são as categorias de base.É lá que está a solução dos clubes. Além de ser mais viável financeiramente, jogador da “terra” parece que é mais cobrado (a família, os vizinhos, o bairro, enfim... a comunidade) Desde que seja muita bem trabalhada essa “responsabilidade”.
O senhor considera a hipótese de voltar ao futebol profissional em outras funções?
Nunca quis mexer com futebol, pois entendo que nunca seria fora, o que fui dentro campo. Já pensou dirigir o Bagé, e não atingir meta nenhuma? Já pensou ser chamado de “burro” por aquele mesmo torcedor que um dia me aplaudiu? Não tenho esse perfil de aturar ofensas e aplausos das mesmas pessoas quieto, poderia me frustrar e com isso me afastar de vez. Parei aos 27 anos, confesso que cansado das viagens e concentrações. Recebi vários convites, mas preferi me manter torcedor a vida toda, do que ter que um dia deixar de ser jalde-negro.Quem sabe... Quando me aposentar, e encontrar pessoas que pensem próximas do que acho seja dirigir futebol, eu não possa colocar meu nome a disposição dos interesses do Bagé. Encanta-me muito, a Direção de futebol...Contratações de jogadores, contato com treinadores,administrar contratos, etc.
Um abraço jalde-negro,
Rocha