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"De qualquer maneira, a decisão está adiada. O Estudiantes enfrenta o Arsenal, em La Plata. O Boca tem agora 3 pontos de vantagem sobre o Estudiantes, e resta apenas a última rodada. Basta um empate, sem depender de nada, ao Boca. Joga em casa, e o adversário é o 7º colocado, Lanús. Mas como é futebol, aguardemos".
Não escrevi isso porque acreditava numa derrota do Boca. Tampouco baseado em análises táticas ou técnicas. Apenas me precavendo, destes caprichos não raros do futebol,como o de hoje.
Assisti a partida de hoje entre Boca Junior x Lanús. Resultado: 3 x 2 pro Lanús. Pontos corridos. Lanús sem almejar nada. Apenas os próprios pontos e a dignidade. E teve de sobra. A Bombonera lotada, Maradona nos camarotes inconsolável ao final do jogo, mas tudo se resolve entre as quatro linhas. Durante a semana, o sincero treinador do Lanús avisou que o empate servia para ele. Alguns viram a declaração com nariz torcido, ainda mais com o atual campeonato argentino, cercado de suspeitas. Mas ele havia apenas sido sincero. Era a verdade: um empate, um ponto, na Bombonera, para os interesses do Lanús, seria bom. Mas ele não dizia: vou para empatar. Apenas dizia que se o empate era bom, a vitória era melhor.
Outra peculiaridade argentina: os jogadores de lá dão muita importância para decisões dete tipo. Mesmo que não seja exatamento o seu time que dispute o título. Para que os adversários não "dêem a volta" contra sua equipe. O Boca daria "la vuelta" hoje, contra o Lanús. Certamente os jogadores do Lanús, além dos pontos que poderiam ganhar, estavam desconfortáveis com esta possível vuelta em cima do jogo contra deles. Não permitiram. No final, comemoraram a vitória como um título. Não era título, é claro, mas que ninguém diga que não foi uma comemoração merecida, o Lanús mal ou bem foi quem deu "la vuelta". Muita luta. Palmo a palmo de cancha disputado. Muito brio. Isto é futebol também, e deveria fazer parte sempre. Heróis se forjam nestas batalhas. Fosse hoje o Boca campeão, nestas condições que o bravo Lanús infligiu, o autor do gol de empate seria herói. O Boca festejaria muito mais. Isto tudo porque o adversário se portou de forma grande. Valorizaria qualquer resultado, muito mais que uma goleada insossa.
A Bombonera silenciou. Num momento meio que raro, mas silenciou após aos 40 minutos. E se silencia, sim, apesar do que alguns pensam. Silencia-se, não porque se acabou o apoio, mas quando a apreensão é muito grande, o torcedor concentra apenas no jogo, e a voz pode faltar em momentos assim.
Grande partida, grande decisão e leva um conturbado campeonato argentino para uma final digna. Jogo extra entre o combativo e incansável Estudiantes de Simeone (que venceu por 2 x 0, nesta rodada), e o quase campeão de hoje, Boca. Agora é tudo no campo, um contra o outro, cara a cara.
Mas a rodada de hoje, a última, presenteou a todos que amam o futebol, com uma partida de futebol na total acepção do termo. Dignidade, luta e emoção até o apito final e todos os clichês que possamos lembrar.
Tudo fica para quarta-feira.
Parabéns a todos os envolvidos, que nos proporcionaram este belo espetáculo e adiamento da decisão, mas principalmente:gracias, futebol!
Foto: Diário Olé
2 comentários:
Sou mais Estudiantes!
Dignidade, luta e emoção até o apito final
Tal coisa que esse ano no campeonato brasileiro definitivamente não aconteceu. O máximo foi uma disputa por vaga na Libertadores.
É...é.
Os bons exemplos devem ser seguidos. E, esse do campeonato argentino, com critéiro de desempate é interessante. Partida para decidir o melhor.
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