Sem luz no fim do túnel

A notícia do leilão do estádio do Gaúcho de Passo Fundo foi veiculada em vários sites e vocês podem ter um resumo da história no blog Futebesteirol.
No caso específico do Gaúcho há ainda uma tragédia acontecida nas piscinas do clube, indenizações não cumpridas, etc., mas o clube se junta ao melancólico cenário que vive o futebol do interior do Rio Grande do Sul, de maneira geral.
A penúria se traduz nas finanças mas também, e talvez principalmente, resulta da “globalização” das torcidas do interior. O mal só não é maior, porque diferentemente de outros Estados, o torcedor do interior gaúcho quando torce por outro “grande” que não seja de sua cidade, opta por Inter ou Grêmio, diferentemente do acontece em vários outros Estados, com torcedores apoiando times do Rio de Janeiro e São Paulo (como acontece na maioria dos Estados nordestinos, por exemplo).
Mesmo assim, os efeitos já são visíveis deste abandono por parte dos torcedores dos times do interior gaúcho. A sedução de torcedores do interior é fácil de entender: de um lado a fartura de títulos e mesmo na ausência destes, a televisão consolidou as marcas da dupla Gre-Nal, e o que ocorre no interior (na melhor das hipóteses) é que o torcedor tem sempre o clube da cidade como preferido e junto a este faz a opção por um time da capital. Há casos de torcedores que se dedicam com a mesma paixão para seus dois clubes, mas infelizmente na maioria das vezes o clube do interior é relegado a um segundo plano. E ainda se não bastasse a influência da TV, a dupla Gre-Nal descobriu o caminho do marketing e através dele atrai associados do interior do Estado, venda de artigos dos clubes, etc.
E o futebol do interior também não se ajuda. Pouco ou nenhum marketing, administrações falhas e poucos abnegados tentando tocar o barco, cada vez com menos “tripulantes”. A exceção é o Juventude, que inicialmente cresceu com a parceria com a Parmalat e depois dela se sustenta com a participação no Brasileirão.
Uma pena este definhamento do futebol do interior, pois inclusive a partir dele a dupla Gre-Nal construiu seu estilo de jogo, o futebol gaúcho se tornou o que é a partir dos campos do interior.
As perspectivas são as piores. Todo início de Gauchão há a polêmica sobre o número de jogos ser excessivo para a dupla Gre-Nal, que usarão reservas na maioria das partidas, etc. Por outro lado, há o discurso que nenhum dos grandes quer perder o Gauchão e que é sempre bom ganhar do tradicional rival. O resultado na prática é que os clubes do interior que disputam a primeira divisão do Gauchão, tem futebol por apenas 3 meses (para os que passam da primeira fase), e depois um longo recesso que vai até setembro, onde disputam a Copa FGF (este ano denominada Copa Paulo Rogério Amoretty, em homenagem ao ex-presidente colorado), copa que é desvalorizada pelas próprias torcidas do interior, talvez porque a dupla Gre-Nal não participe com seus times principais. Para os que disputam a Segundona, aí o calendário é maior (março-setembro), mas o campeonato é deficitário ao extremo.
O problema é que os times do interior da 1ª divisão concordam com este calendário. O torcedor do interior fica com 3 meses de futebol, e depois assiste fartamente jogos da dupla Gre-Nal, em torneios muito mais importantes, em estádios melhores, em jogos mais decisivos e acompanha pelos jornais, rádios, internet, conversas de boteco tudo sobre a dupla Gre-Nal. O time dele, do interior, esquecido. Por 9 meses. Uma gestação. A gestação da paixão por outro clube que não o da sua cidade. Mas os clubes, por um motivo, inevitável ou não, aceitam o calendário proposto, ano após ano. E suas torcidas definhando, em número e em fanatismo.
O interior também comete o erro de não cultuar seus ídolos. Para ser ídolo, só se não for da cidade. Só se aparecer na TV e falarem na rádio da capital. Então lotam cinemas para assistir partidas da dupla, mas não colocam uma arquibancada cheia em jogos do time da cidade. A camisa do clube da cidade é “cara” (isso quando as direções disponibilizam nas lojas especializadas), mas não pensam duas vezes em pagar R$ 150, R$ 180, por camisas de “times grandes”, até europeus. E assim alimenta-se o círculo vicioso.
Não é nada bom o futuro de todos os times do interior do Rio Grande do Sul. Que esqueçam o Gauchão (que dá no máximo uma partida de casa cheia numa semi-final qualquer) e que lutem para disputar a Série C do Brasileiro para a partir daí, quem sabe um dia, chegar na Série B nacional, está sim, muito rentável para o clube (se tratando de um time interiorano).
Então o SC Gaúcho tem seu patrimônio perdido e fecha suas portas, mas está acompanhado de muitos outros que só não estão formalmente nesta situação, mas de fato, fecharam suas portas. Clubes tradicionais como Grêmio Santanense, Rio-Grandense (Rio Grande), Guarani de Cruz Alta estão fechados. Outros vão e voltam, de tempos em tempos e muitos estão se encaminhando para mais cedo ou mais tarde abandonarem os campeonatos oficiais, para depois nem torcedores ter.
Infelizmente não sei a solução ideal também, mas algumas atitudes já deveriam ter sido tomadas para a revitalização do futebol interiorano. Que seja rápido.


Que os torcedores da dupla Gre-Nal pelo interior sigam torcendo para a dupla, não há nenhuma crítica, mas que gastem também com seus times do interior...eles não pedem muito: uma camisa, um ingresso e talvez alguma mensalidade de 20 ou 30 reais, ou se não der, apenas um destes. A retribuição é sempre certa. Com futebol aos domingos, ao vivo, não enlatado, representando tua cidade de origem.

No título do tópico do Futebesteirol que trata do fechamento do Gaúcho, o autor (Maurício Brum) foi muito feliz: “A morte de um Gaúcho”. E com o clube, morre uma importante parcela do futebol gaúcho também.




















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1ª Foto: autor - Gatuzo (via Flickr.com)
2ª Foto: Ultras do Bréscia.

1 comentários:

Maurício Brum disse...

É lamentável que o futebol do interior gaúcho tenha chegado a esse ponto desesperador.

Pior é quando há planejamento e reconhecimento da mídia e o clube acaba desmoronando por falta de interesse da comunidade. O 15 de Novembro é um caso exemplar disso, tendo passado a primeira parte da década como um gigante pros padrões interioranos e até conseguindo admiradores na grande imprensa. Só que Campo Bom foi incapaz de dar o devido apoio ao sucesso do clube - justifiquem da maneira que quiserem, era deprimente ver o pequeno estádio sem lotar ao mesmo tempo em que o time avançava na Copa do Brasil de 2004. Não há boa administração que resista ao desinteresse local, e o 15 já caminhou rumo ao rebaixamento (salvou-se no fim) em 2007...

E quando um clube tem apoio, bom, más gestões também não faltam...

Vivemos uma época em que o interior balança a cada ano. Os clubes iniciam a temporada pensando em como se manter para não fechar ao final dela, caminho que parece ser o da maioria das agremiações.

O futebol gaúcho - aquele glorioso, longe da Capital - está agonizando. E ainda há quem peça o fim dos campeonatos estaduais...

Tema muito pertinente. Abraço

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