Das nomenclaturas

Como torcedor do Bagé, sempre me causa estranheza ler o nome do jalde-negro escrito "Grêmio Bagé". Ou pior ainda, como já vi, “Grêmio de Bagé”. Além das ponderações referentes à Língua Portuguesa, cria-se a falsa impressão de que o Bagé baseou-se no Grêmio Porto Alegrense na hora de batizar o time da fronteira, em virtude do time da capital ser muito mais conhecido e um pouco mais antigo. Mas é um erro achar isso, apesar de ser fácil de entender.


Primeiro vamos esclarecer o significado de “Grêmio”, segundo o dicionário:
do Lat.Gremiu, s.m., comunidade;assembléia;corporação;associação;grupo.
Ou seja, no caso do Bagé, uma associação de futebol, denominada "Bagé".

Para exemplificar, seria o mesmo que chamar o Inter de “Sport Internacional”, o Brasil de Pelotas de “Grêmio Brasil” ou São Paulo de “Futebol Clube”, só para ficar nestes exemplos.
Vamos também nos valer da história.


O Bagé foi fundado em 1920. O Grêmio em 1903. Em 1920, o Grêmio não tinha nenhuma projeção que fomentasse alguma “cópia” pelo interior. Só havia um campeonato gaúcho disputado até aquele ano, o de 1919, e que foi vencido pelo Brasil. Em 1920, o vencedor foi o Guarany de Bagé [aqui é outro exemplo: pra quem acompanha o futebol do interior do RS, apenas grafar “Guarany” com “y”, já subentende-se que é o de Bagé). Além disso, nas décadas de 10, 20 e 30, clubes de Bagé, Pelotas, Rio Grande e Sant’ana do Livramento competiam de igual pra igual com os clubes da capital, inclusive no que diz respeito à contratações de jogadores. Bagé e Guarany, por exemplo, tiveram vários jogadores do Nacional e Penãrol em suas equipes nesta época de “plata” sobrando, já que a economia destas regiões ia muito bem.
Não havia torcedores do Grêmio Porto Alegrense ou do Inter em Bagé, e no interior, de maneira geral.
Outro fator que aponta para a desinformação quando tratam o Bagé por “Grêmio Bagé”, é que em 1906, o embrião do Bagé, também jalde-negro e de fundadores coincidentes do “Bagé de 1920”, foi batizado de “Sport Club Bagé”. Diriam hoje que seria uma cópia do homônimo de Porto Alegre, mesmo sendo o Inter de 1909.
Mas o Bagé, como alguns outros clubes do interior que coincidentemente têm o pré-nome igual à de um dos “famosos”, paga pela sua “falta de fama”.

Vejamos um exemplo emblemático do que estou escrevendo, que ocorreu num programa da TV Com (televisão de Porto Alegre do grupo RBS - pra quem é de fora do RS). O programa era apresentado pela Tânia Carvalho, coincidentemente bageense e torcedora do Guarany. O tema era futebol, estava lá inclusive o Ruy Carlos Ostermann, e lá pelas tantas falaram que um dos primeiros uniformes do Internacional tinha sido um listrado, vermelho e branco, e a Tânia Carvalho observou que era igual ao Guarany, mas todos concordaram que o Guarany é que havia se inspirado no alvi-rubro da capital.

Mesmo sendo jalde-negro, não resisti e liguei para a produção do programa para informar que o Guarany havia sido fundado em 1907 ! Não tinha culpa de ser menos famoso, o que é uma coisa, mas ter se inspirado no uniforme é outra. A não ser que os fundadores do Guarany fossem profetas e tivessem previsto tanto a fundação do Inter em 1909, como seu sucesso no futuro. Assim como os fundadores do Bagé, deveriam estar pensado: “vamos copiar o primeiro nome deste tal time de Porto Alegre, pois terão sucesso no futuro”, já que até 1920, ano de fundação do Bagé, Grêmio e Internacional eram apenas clubes incipientes, e que perdiam, títulos inclusive, para Bagé e Guarany.

Então este tipo de erro se repete, e vai se solidificando, por mais que se tente o contrário. Já enviei alguns e-mails à redações de esportes dos jornais de Porto Alegre cada vez que publicavam o “Grêmio Bagé”, mas algumas vezes as pessoas preferem se manter desinformadas, já que o assunto é “irrelevante” (no dos outros é talco) e dá muito trabalho retificar.

Outro que paga o preço do homônimo ser mais famoso é o Grêmio de Foot-Ball Santanense. Desse eu não posso afirmar categoricamente a intenção dos fundadores, já que não conheço a história do clube, mas parece ser o mesmo caso, já que foi fundado em 1913, e ainda por cima tem as cores vermelha e branca.

Então, o Bagé é BAGÉ, ou seu nome completo, Grêmio Esportivo Bagé, assim como o Internacional é “Internacional”, ou Sport Club Internacional.

E que eu pare de ler em Orkut e fóruns esta má combinação, não pelo nome, que faz parte do nome do Bagé, orgulhosamente para seus torcedores, mas porque leva o leitor desinformado a acreditar que o Bagé é uma espécie de cópia de algum outro time, no que diz respeito ao nome.
E pra esclarecer mais ainda os que não conhecem este clube, as cores são o amarelo e o preto, listrado.


Publique-se e divulgue-se!

Foto: os fundadores do Sport Club Bagé, em 1906, via Jornal Minuano (Bagé-RS).

Penalidade Máxima e ainda Football Factories

Assisti ao filme "Mean Machine" (título em português: Penalidade Máxima).
O filme, bem, aí vai a sinopse:
"Um ídolo do futebol é expulso do time devido à acusação de ter manipulado um resultado e, logo depois, agride um policial e é preso. Ele recebe então a proposta para que treine o time dos guardas da prisão. Com Vinnie Jones".

Na verdade ele é "ex-ídolo, porque não joga mais e vendeu um jogo entre Inglaterra e Alemanha. A sinopse também não me deixou interessado no filme, mas como era sobre futebol...vamos lá.

O filme não é ruim, mas não recomendaria pra quem não está disposto a gastar R$ 2,50 num filme "normal". Mas tem alguns momentos.

Resumindo a coisa toda, acaba que ocorre um jogo entre presidiários e guardas na prisão inglesa onde está o ex-ídolo. Ele lidera o time dos presidiários. Tem alguns momentos engraçados, bastante clichês e mistura o mundo "da detenção" com o mundo futebolero.
A edição da partida entre "detentos x guardas" é longa, mas se tratando de "filme de futebol" até que as ações não são das piores (ao contrário de vários outros filmes). No caso deste, eles levam vantagem porque têm que representar um jogo amador, então se torna mais fácil lidar com falta de velocidade, etc. Ficou "ajeitado".



Ficha:
Título Original: Mean Machine
Gênero: Comédia
Tempo de Duração: 99 minutos
Ano de Lançamento (Inglaterra): 2001
Direção: Barry Skolnick

No elenco, quem assistiu ao "Snatch - Porcos e Diamantes" (um dos meus favoritos), irá reconhecer metade do elenco. Não sei se é por isto, mas na capa do filme na locadora, há uma inscrição que é do "mesmo diretor" de Snatch - Porcos e Diamantes...vendo a ficha técnica aqui, parece propaganda enganosa.
Além deles, aparece também Danny Dyer (foto ao lado) , que foi protagonista em "The Football Factory”, e apresentador do documentário que vou lincar abaixo.

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Este não é ficção. Danny Dyer vai para a Turquia e mostra um dos clássicos mais selvagens do mundo, entre Galatasaray e Fenerbach, pela série "The Real Football Factory - International" . Tem um pouco de imagens do clássico turco no estádio e algumas entrevistas com os envolvidos, além de comentários do próprio ator/repórter. O ator, que não é bobo nem louco, vai com a torcida que é maioria no estádio, inclusive de jaqueta do time, que ele ganha na frente de um bar de torcedores. Mas o documentário é muito bom, ainda mais tendo como parâmetro o que (pouco) se produz sobre futebol. A edição é excelente!
O único "porém" é que esta versão que eu achei é sem legendas, não sei se existe outra legendada. Mas faz do limão uma limonada e além de assistir, treina teu inglês...ou só assista mesmo, as imagens são auto-explicativas, em grande parte dos casos.
Eu gostei bastante e como é uma série, assistirei os demais e depois comento por aqui.

TRFFI - Turquia
TRFFI - Argentina (ainda não assisti, depois comento)

Aviso

O canal Sportv, apesar de não estar transmitindo o Campeonato Argentino, amanhã passará ao vivo o Superclássico.

A partida começa às 14 horas (horário de Brasília) e é uma boa oportunidade para dar uma conferida no campeonato de lá, porque parece que o Sportv não irá transmitar nada além dos River x Boca.




Na Itália tem o clássico entre Lazio e Roma, às 15:30, será transmitido pela RAI e TV Esporte Interativo.

Eu assistirei o Boca x River e depois pego o segundo tempo de Lazio e Roma.

Não costumo postar programação aqui, mas este domingo valia uma postagem, pelos dois grandes clássicos.


Sobre o clássico argentino, fala o goleiro do River, Juan Pablo Carrizo, no D. Olé:
"En estos partidos se demuestra si tenés huevos".
Bom domingo!

Das canchas retas às 4 linhas

Existe no município de Pinheiro Machado (RS), um distrito chamado Torrinhas.Belíssimo lugar, onde pode ser visto ainda os últimos remanescentes dos mais xucros costumes gaudérios. Eu conheço o lugar porque um amigo meu, o Luciano, possuía uma estância por lá, e algumas vezes visitei o lugar. O avô deste meu amigo possuía também uma “cancha reta” (local destinado à corrida de cavalos) na localidade, talvez único local de diversão da galera nos finais de semana. Semana passada este meu amigo me visitou e relembrou algumas histórias que presenciou no estabelecimento de seu avô, histórias insólitas e muito engraçadas, e os personagens, figuras que ainda guardam o que de mais autêntico há na cultura gaúcha.
Os relatos são incríveis, e vão desde dos hábitos etílicos dos freqüentadores, até peleias lendárias em virtude dos jogos que por lá ocorriam (jogo de osso, carteado, cancha reta, etc).


Nada envolvia futebol, para que eu relatasse aqui, até que ele lembrou de um jogo, um pequeno fato, mas que demonstra bem como a cultura local invade o futebol. Ocorre em todos os setores, mas o futebol é prodigioso no que diz respeito a incorporar a “localidade” na prática de um esporte que é internacional.

O jogo corria normalmente para os padrões deste rincão, muita pechada, canelada, berros dos jogadores e da assistência, futebol cru, a essência do que hoje chamamos de “futebol força” – futebol à força. Com os exageros das divididas, a coisa foi ficando mais ríspida que o normal, e os jogadores de ambas as equipes já deixavam a bola e a marcação do gol para o plano secundário: virou caça ao adversário. Nada que preocupasse platéia e “comissões técnicas”, era normal que os jogos terminassem assim. Mas em alguns casos, até o mais rude zagueiro pode ficar preocupado com o parceiro de equipe.

Lá pelas tantas, numa dessas “divididas”, um zagueirão que só dava bico pra longe, jogando sem camisa, com o cigarro apertado entre os dentes, ao ser driblado por um atacante, não vacila: em velocidade, acerta um chute potente, mirando apenas a perna do “driblador”, que já ia disparar em velocidade (o segredo dos atacantes destas bandas é a velocidade, muito mais que a técnica... dá pra entender).
A câmera é lenta. O grunhido é de ambos. Um solavanco e o vôo. E o que assustou a todos, inclusive os que estavam acostumados com estes jogos domingueiros de futebol: um “CRAC”!
Um barulho horrendo para sair da perna de alguém. Um som de osso estilhaçado, mas muito estilhaçado. Já pensavam em rumar pro hospital mais próximo.
O atacante, rola, a pancada fora realmente muito forte, uma, duas, três vezes...cai inerte por uns bons 5 segundos de apreensão e levanta, mexendo na meia atingida.
A platéia está atônita, e fica mais surpresa ainda quando o jogador saca de dentro da meia, rindo, pedaços de uma telha Brasilit. Era a “caneleira” do sagaz atacante que havia espatifado. A canela, “intacta”, considerando a violência da pancada.
Primeiro, gargalhadas, depois aplausos efusivos da claque.

Eu apenas lamento não haver imagens destas pérolas que ocorriam nos campos do sul.

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