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Lolo(?) puto(??)


Catenaccio é ofensivo demais

Na postagem anterior sobre a minha seleção ideal, surgiu o assunto sobre contra-ataques.
Existem contra-ataques mortais, executados da maneira que relatei que "minha seleção" faria.
E nem estou falando do
Catenaccio, que na teoria eu acho mui ofensivo, pois ficam, teoricamente, três jogadores a esperar o lançamento. Claro que hoje em dia, tal sistema já está re-adaptado, mas (mais me ajuda), escrevo sobre o original. Era ofensivo, em termos de contra-ataque. Talvez o Catenaccio fosse pessimista em relação a quem “dominaria a pelota”, ou com relação a quem lançasse... Um bico pra frente, teoricamente, ou cai na direita, ou na esquerda... ou no centro.
Mas para levar a cabo um contra-ataque clássico e mortal, são requeridas apenas duas coisas: um atacante isolado, mas veloz e inteligente, e um bago para frente que ao menos cause constrangimento para a zaga adversária. Se o adversário estiver desesperado, é a cereja do bolo.
Tentando deixar mais claro como é possível o contra-ataque de “um homem só”, coloco o vídeo abaixo, sobre um embate da Libertadores 2010, entre Alianza Lima e Universidad de Chile (contra-ataque a partir de 1min e 27 segundos):



Não tem relação com a postagem, mas vale o comentário: assisti a este excelente jogo entre Alianza e Universidad de Chile. E duas coisas sobre as quais era um ignorante: o
estádio do Alianza Lima é perfeito e sem frescuras, e a torcida deles não parou praticamente nenhum minuto, e não falo apenas das barras, falo da plateia inteira.

O Uruguai classificou pra copa?**

O Uruguai classificou pra Copa? No mais puro copeirismo atávico? Só estou esperando caírem em uma chave bem bacana, do tipo França, Portugal, Uruguay e Nigéria. Não que eu queira, mas é que...

A Centúria Celeste
Após ir dormir com a cabeça inchada por mais uma aviltante goleada sofrida pelo seu time do coração no semi-clássico regional, Cesinha acordou possuindo a Verdade Absoluta.Acordou num sobressalto, é bom que se diga.
Consciente do impacto que tal revelação causaria ao mundo, ao sentimento de paixão incondicional de cada torcedor, de cada time do globo terrestre pelo futebol em si, Cesinha cogitou omitir. Além do mais, a Verdade Absoluta era por demais grandiosa (afinal era a Verdade Absoluta) e, como toda a nova revelação revolucionária, haveria de ser desacreditada. É.
O melhor mesmo era calar-se para sempre.
O mais ajuizado, o mais sensato, o mais inteligente. E, por isso mesmo, Cesinha decidiu fazer a grande revelação.

Para isso, chamou seus dois comparsas e futuros difusores da Verdade Absoluta: Alex e Alemão. Sexta-feira, oito da noite, Mesa Magna da sala de reuniões (Snooker do Patinho, mesa de plástico da Polar) Alemão: Ó, Cesinha, espero que desta vez valha a pena, hein...

Alex: É! Da última vez em que falamos, tu vieste com aquela história de complô da Federação Gaúcha de Futebol pra beneficiar você sabe quem, e, quando perderam, ficou aí inventando mil desculpas...

Cesinha: É que eu tinha um bom informante... conheço um cara que é filho de um conselheiro do clube, e...

Alemão: (levantando) Eu vou embora!
Cesinha: Tô pagando a cerveja
Alemão: (senta-se rapidamente) Vou ficar só pra não dizerem que sou mau amigo.
Alex: Qual é o caso desta vez? Quem está armando contra teu time desta feita? O Talibã, a máfia soviética? (risos)
Cesinha: Russa! É máfia russa. Mas não, não tem ninguém querendo prejudicar o meu time, a não ser, é claro, os de sempre. Hoje vim revelar-lhes A Verdade.
Alemão: A verdade?
Cesinha: Não. A Verdade. Com maiúscula. A Verdade Absoluta.
Alex: Bom, então neste caso, que venha a primeira rodada!
Alemão: É!
Cesinha: Certo, certo (esfregando as mãos) ...Patinhô, uma Polar grande e três copos. Limpos, desta vez.

Sexta-feita, oito horas da noite mais quatro minutos, mesmo lugar mas agora com cerveja.

Cesinha: seguinte, eu fui dormir na noite passada um pouco chateado, devido aos acontecimentos...
Alemão (interrompendo) O sacolaço de 6x0 que vocês tomaram, de novo, do...
Cesinha: (cortando aos gritos) Cala a boca! Eu tô pagando a cerveja e vocês vão me ouvir!
Alex: Fala aí!
Cesinha: Hunpf...
Alemão: Deixa de frescura. Fala!
Cesinha: Todas as Copas do Mundo foram arranjadas!

É preciso dizer que Alex e Alemão levantaram ao mesmo tempo e foi preciso que o Cesinha, além de implorar para que ficassem, prometesse cerveja ilimitada para ambos, a noite toda, até às seis da madrugada.Caso alguém estivesse consciente até lá, é claro.
Reinício da palestra, oito da noite mais treze minutos, o lugar não muda nem sequer mudará. Mais uma cerveja na mesa.

Cesinha: Como eu ia dizendo, quando vocês de maneira muito desrespeitosa interromperam, todas as Copas do Mundo foram arranjadas.
Alex: Tá bom...
Alemão: Todas?
Cesinha: Todas menos uma! Que foi arranjada, mas uma das partes não colaborou. E por isso paga até hoje.
Alemão: Qual é...
Cesinha: Calma! Esta revelação se dará somente mais tarde.
Alex: Olha, Cesinha... que uma ou outra tenham sofrido influência até vá lá, mas... todas... ou todas menos uma...
Cesinha: Provarei através de evidências irrevogáveis, meu caro. Evidências irrevogáveis. Obviamente devo dizer que as regras do jogo do poder mudaram muito durante os anos. Que medidas preventivas foram tomadas em função de determinadas circunstâncias, mas, hoje, temos padrões muito bem definidos de conduta, possíveis campeões, leis de compensação histórica e, é claro, motivações políticas de toda a ordem.

Alemão: Nossa, isso vai longe... ô, Patinhô... mais uma.
Após alguns protestos, discussões de veto às influências políticas e três cervejas além, já passa das nove da noite e o álcool começa a trabalhar na mente dos convivas. Além do mais, ficou convencionado que, antes do arranca-rabo de 45, a coisa era por demais obscura à luz dos fatos e evidências.
Cesinha sorriu com a simples menção de tal divisão. E assim ficou acordado entre os três.

Alex: Tá como tu nos explica a Itália ter ganhado a Copa da Alemanha, em 2006?
Cesinha: Europeísmo e compensação histórica. Fácil!
Alemão: como assim?
Cesinha: Os europeus, depois de 58 (e mais tarde darei uma explicação adicional que é a alma da teoria), tomaram uma medida de preservação – que eu chamo de europeísmo – para que jamais uma seleção não-européia ganhasse naquele continente.
Alemão: Tá, mas por que não a Alemanha?
Cesinha: Poderia até ser, em caso de acidente, mas foi a compensação histórica por a Alemanha ter conquistado a de 90, na Itália.

Considerando tal uma evidência ao menos considerável, Alex e Alemão começaram a se interessar mais pela teoria do amigo.

Alex: Tá. Resolvido 2006 e 90. Mas e 2002? O que tem a ver o Brasil com o Japão e a Coréia?Cesinha: Lembra o que fizeram com a Espanha e a Itália nos jogos contra a Coréia? E o Brasil contra a Turquia! Os brasileiros – sobretudo o Zico – reinventaram o futebol no Japão e como a Copa era fora da Europa, a CBF já havia previamente aceitado perder a Copa de 98 para a França e reconquistar o título quatro anos depois, por predileção nipônica e sob o aval da FIFA.

Novamente Alemão e Alex se entreolham. As coisas começavam a tomar forma. De repente tudo parecia fazer sentido: uma incrível, milionária e mundial manipulação de resultados se mostrava palpável.
Alex queria mais evidências, porém:
Alex: 62?
Cesinha: América do Sul. O Brasil tinha o melhor time. Não tinha como não ganhar!
Alemão: 66?
Cesinha: Inglaterra. Os inventores do futebol nunca tinham conquistado o título-maior do futebol...
Alex: 70...

Cesinha: O time do Brasil era mágico. Talvez o maior de todos os tempos. O Negão tava no auge... mas só ganharam porque era no México. Fosse na europa, teria dado Itália.
Alemão: 54! Final européia! O que tu me diz disso? Hein, hein?
Cesinha: (sorrindo com ares de fidalgo) Bem... primeira Copa do Mundo na Europa pós-guerra... Alemanha em frangalhos... o povo alemão precisava de um alento... de uma nova razão para se orgulhar... de um milagre... um milagre de Berna!

Alemão já estava arrepiado – e bêbado, enquanto Alex não parava de se remexer na cadeira. Tudo fazia sentido. Tudo estava claro! Como haviam sido inocentes! Graças a Deus eram amigos do Cesinha, que tanto subestimavam e que agora mostrava-se, irretorquivelmente, o mais genial de todos deles.

Alemão: Quais Copas faltam... un...
Alex: 74?
Cesinha: Alemanha jogou em casa. Poderia ter dado Holanda. Prevaleceu o fator local...
Alemão: 1978...
Cesinha: A ditadura comprou esta Copa, meus caros. Era na Argentina, eles nunca haviam sido campeões.
Alex: ora, ditadura...
Cesinha: A Argentina ganhou de 6x0 do Peru no último jogo classificatório e foi pra final. O tal do Cruyff se negou a jogar esta copa pois sabia do que a ditatura era capaz.
Alemão: Meu Deus, tudo faz sentido... ô, Patinhôôô, mais uma aqui pra nós!
Alex: 82?
Cesinha: Na Europa. Final entre Itália e Alemanha. Vocês acham que foi por acaso? Com o timaço do Brasil? Precisa ser muito inocente...
Alex: 86?
Cesinha: Copa fora da Europa. Gol de mão. Maradona no auge...
Alemão: 90?
Cesinha: Já falamos de 90, que, além do já dito... bem... foi a revanche de 86, na Europa. Era claro que a Alemanha seria a campeã... ou vocês acreditam que um time que tinha Maradona poderia perder uma partida daquelas e com gol de pênalti ainda por cima...

Houve um longo tempo de silêncio. Todos davam generosos goles em seus copos. Pareciam meditar. Cesinha estava em transe. Alex estava perplexo. Alemão pedia mais uma cerveja. Alex consultou o velho cebola: nove e trinta e três. Respirou fundo e veio-lhe à mente uma idéia que poderia colocar tão maravilhosa trama abaixo. Não teve escolha:

Alex: Mas... Cesinha...
Cesinha: Sim?
Alex: E 50? O mais óbvio era que o Brasil ganhasse, afinal a copa era aqui, o Maracanã estava estourando gente, o Uruguai já havia sido campeão em sua própria casa...
Alemão: Pois é (gole) em 50 (gole duplo) o Brasil (gole longo) deveria ter sido o campeão!

Cesinha atirou os braços para os lados. Sorriso de Mona Lisa no rosto.Os amigos perceberam, aliviados, que ele deveria ter uma justificativa para aquilo.E tinha.

Cesinha: De fato, 1950 foi arranjada para o Brasil ser campeão.
Alemão: Mas como?! E por que o Uruguai ganhou?
Alex: É, pelo visto a sua tese caiu por terra...

Cesinha serviu-se com mais cerveja. Entornou o copo inteiro e produziu um “Ahhh” de satisfação. Prosseguiu.

Cesinha: O Uruguai sabia que deveria perder. Em troca de compensações futuras, como todas as seleções de qualidade e/ou força política. No entanto, alguns homens de muito valor como Schiaffino e Ghiggia simplesmente se negaram a entregar o jogo para o vizinho e rival histórico. Eles sabiam que se perdessem a partida em tais circunstâncias, não perderiam somente um campeonato. Perderiam suas almas. Houve um silêncio de alguns segundos. Nem o Alemão se atreveu a dar um gole neste lapso de tempo. Cesinha não deixou a bola cair.

Cesinha: Tanto é, que quando o jogo acabou, os jogadores do Uruguai não foram comemorar direto. O juíz apita e alguns deles se olham, como que dizendo: “O que foi que nós fizemos?” Os brasileiros não acreditam no que está acontecendo... e, por fim, 58 foi a compensação histórica por 50. E todos os títulos europeus na Europa foram a compensação desta compensação. Hoje, enfim, temos um padrão bem definido de como a coisa toda funciona.

Alemão: (já completamente alcoolizado, mas juntando forças para formar uma frase completa) Mas Cesinha... o Uruguai não deveria ser punido?
Alex: (com olhos arregalados) Meu Deus... o Uruguai... nunca mais ganhou nada... ficou fora de muitas e muitas Copas do Mundo... é eliminado em repescagens contra times de Rugby... Cesinha, meu querido: eis a Verdade Absoluta.
Cesinha: Sim, mas tal punição tem prazo, meus queridos...
Alemão e Alex: Tem?!
Cesinha: Sim, 100 anos.
Alex: 100 anos?! Mas...

Cesinha: Sim, a punição tem um nome: Centúria Celeste.Alemão: Centúria Celestre...
Alex: Centúria Celeste...
Cesinha: É. Centúria Celeste. Até 2050, pelo menos, o Uruguai não ganhará uma Copa do Mundo sequer. Este é o preço que pagam por não terem vendido suas almas.

Alemão, mais por bebedeira que por amor à República Oriental, tinha lágrima nos olhos. Alex estava em êxtase. Cesinha sorria, superior.

Cesinha: E saibam que esta é somente a ponta do iceberg. Citei as Copas do Mundo pois trata-se da vitrine do futebol. Até aqui, no nosso certamente gaúcho há manipulações de toda a ordem e que vocês não enxergam porque não o querem...Obviamente a esta altura do campeonato qualquer coisa que o Cesinha dissesse seria lei. O brasileiro (gaúcho ou não) tem verdadeira tara por uma teoria conspiratória. E quanto mais conspiratória e mais inverossímel, mais digna de crédito!

Alemão: (recuperando por alguns segundos a sanidade e a sobriedade) Patinho, vê mais uma... ô, Cesinha, perdão por ter duvidado de ti... mas agora conta, sério, o que o campeonato gaúcho nos reserva? Quem será o campeão?

Cesinha: pois bem, estas derrotas que meu time vem sofrendo são embustes, disfarces para despistar o grande público. O campeonato já está comprado para nós por nosso futuro novo patrocinador. Já tá tudo certo!
Alex: Como é que é?!
Cesinha: Exato. Já tá tudo certo! Uma grande empresa multinacional patrocinará o glorioso. Compraram este campeonato junto à federação e aos times de capital por uma fortuna e alguns favores futuros que, agora, não posso revelar, por favor não insistam (ninguém haviam feito sequer menção de insistir). Ano que vem o patrocinador entra oficialmente no time que é campeão gaúcho e – por favor, é segredo, viu – campeão da Copa do Brasil deste ano também e ganhará muita mídia... como eu disse, já tá tudo certo!

Alex e Alemão estavam perplexos. Beberam muito até o amanhecer. Cesinha sentia-se um deus.Nas semanas que passaram, nosso profeta-futebolístico teve tratamento de Rei pelos dois amigos (e pelos amigos dos amigos que ficaram sabendo dos fatos). Cesinha não pagava mais cerveja nem entrada em lugar que fosse. Celebridade: era isso o que Cesinha se tornara entre os fanáticos da bola naquela cidade e assim era tratado por todos. O clube do coração de nosso filósofo do esporte bretão chegou – como não poderia deixar de ser – à final do Campeonato Gaúcho. Todos em polvorosa. Primeiro jogo da final na casa do glorioso (no interior do estado), segundo jogo na capital. A primeira partida acabou em 1x1. Após o término, numerosa audiência no Snooker do Patinho. Cesinha chegou – com a camisa do clube – e, após ser rapidamente cobrado, respondeu com ares de despreocupado:- Já tá tudo certo!
Querem exposição maior na mídia do que uma vitória épica fora de casa? Todos se calaram, envergonhados.
De fato, Cesinha estava num patamar acima dos demais. Eram todos medíocres nos conhecimentos do futebol. Menos ele, o Escolhido.Todos beberam à saúde do amigo. Cesinha, a essas alturas, tinha copa livre na casa.

Domingo, cinco horas da tarde mais três quartos, finalíssima do Gauchão, Snooker do Patinho, todos os amigos, conhecidos e admiradores do Cesinha presentes. Cesinha estava na capital, vendo o jogo no estádio. O juíz apita o final do jogo. Time da capital 4, time do Cesinha 0.

Apesar de seu time ser o campeão, Alex está revoltado. Quer tirar satisfações.O celular de Cesinha está desligado, mas pouca diferença faz. Ele nunca mais irá ligá-lo. Cesinha sequer voltou para sua cidade. Está morando com uns primos e – dizem – até já arrumou emprego.
Patinho está revoltado: quer cobrar todas as cervejas que Cesinha tomou quando ainda era ídolo.

Alemão e Alex não vêem a hora de encontrar o Cesinha: querem surrá-lo até a exaustão.
Todos os seus amigos lhes viraram as costas, por professarem tamanho despautério, esquecendo, é claro, o fato de também terem dado crédito e divulgado tal tese.

É, pode ser que o castigo para o Uruguai não dure tanto, mas o Cesinha, ah, o Cesinha sim, vai curtir um longo exílio.
E pensará 2 vezes antes de falar qualquer coisa que seja, principalmente sobre futebol.

Cesinha, já tá tudo certo: sua carreira acabou, garoto!

** Por Maurício Kehrwald

Promoção do Velho Barreiro

No rótulo da parte de trás da garrafa de Velho Barreiro, a seguinte promoção (talvez seja antiga, já que o brasileirão é do ano passado, mas as garrafas continuam circulando):

"Brasileirão 2008 - Futebol emoção Nacional -

No Campeonato Brasileiro de Futebol, torça pelo time do coração pois o campeão é você!Participe!
Basta juntar 180 (!) tampinhas novas da cachaça VB 910ml com mais R$ 1,50 e você compra bolas oficiais!" [grifos e ponto de exclamação entre parênteses, meus].

Ao ler rapidamente, fiquei pensando se poderia haver algum fanático futebolero que entornaria 180 garrafas de Velho Barreiro dentro do prazo da promoção. Eu sei, vão dizer que tem gente tomaria as 180, mesmo sem brinde. Mas é uma quantidade deveras relevante. Seria algo em torno de 160 litros do mais puro Velho Barreiro!

Mas, mais abaixo no rótulo, a sempre esclarecedora e miúda mensagem do asterisco: "Esta é uma ação dirigida exclusivamente aos profissionais de atendimento ao balcão e/ou proprietários de estabelecimentos comerciais (...)".

Perdeu a graça, até porque muita gente que não é "profissional de atendimento ao balcão e/ou proprietário de estabelecimento comercial" gostaria de ter uma bola de futebol clássica destas.
Fora os 160 litros...
E coitado de quem não leu o "asterisco".

Volantes

Volantes*

1.Que voa ou pode voar; voante.
2.Flutuante, ondulante.
3.Que se pode mudar facilmente; móvel.
4.V. voltívolo (1).
5.Errante, nômade, vagabundo.
6.Passageiro, transitório, efêmero.

Estas são as seis definições do Dicionário Aurélio para o verbete volante, enquanto adjetivo.

Pra falar a verdade, eu nunca entendi muito bem essa coisa de chamarem volante o jogador que ocupa a posição reservada aos atletas mais voluntariosos e menos técnicos do time. Mas quando cheguei ao item de número 5, conclui: é um deboche! Só pode ser um deboche!

- É um erro de tradução, meu caro, e...
Sim, sim! Esqueçamos este detalhe, senão a coisa descamba para a seriedade explícita.

Além do mais, algumas culturas do futebol dão a entender que volante técnico é imprestável. Basta um camisa 5 ou camisa 8 dar um toque mais refinado ou uma subida pela linha de fundo que já aparece a turma da corneta pra largar:

- Ih... volante faceiro... não sei não...

Ou:

- Epa! Ei, treinador! Ô, burro! Saca esse passista e coloca o Sidnei Volvo pra dar mais pegada!

Ou, pior ainda:

- Volante bom tem que dar pau o tempo todo. E se for expulso, cospe na cara do juiz. Que é pra mostrar quem é que manda.

Confesso que já fui assim. Fui e ainda sou um pouco; no entanto sou bem menos radical hoje em dia. Inclusive até admito que um dos dois volantes saiba jogar. Os dois não, porque aí também seria exagero.

Falar sobre volantes me fez recordar uma história, verídica, claro.

Certo, ela pode ser quase verídica, e, se não é de uma veracidade plena, ao menos é baseada em fato sucedido, e... enfim, vamos ao causo:

Certa feita surgiu num time do Rio de Janeiro um volante muito habilidoso, que marcava gols, inclusive. Tinha uma boa noção de cobertura da zaga e dificilmente errava um passe.

Pois aconteceu que este jogador, depois de conseguir o merecido destaque, foi negociado com o futebol ucraniano e passou duas temporadas lá. Se jogou bem ou não pouca diferença faz, afinal, o cara que vai pra lá, vai pra ficar rico e pra desaparecer.

Bom, mas acontece que depois deste tempo o cidadão quis voltar para o Brasil, sob o pretexto de tentar vaga na seleção, pois assim seria observado de perto e etc...
Seu empresário numa – como diria o grande jornalista Marcello Carvalho Barbosa – "negociação digna de um Oscar" tanto fez que conseguiu colocar seu atleta, através de uma transferência milionária, no futebol paulista.

Após certa demora, graças aos trâmites de praxe, o cara estreou já num clássico. Passou o primeiro tempo inteiro perdido correndo atrás da bola, e, quando recebia um passe, logo despachava a pelota para o campo de ataque.

Voltou para o segundo tempo mais perdido ainda. Poucas vezes pegou na bola e, assim, foi substituído.

Em entrevistas pós-jogo o treinador pediu paciência para com o atleta, pois era sua primeira partida, a equipe havia conseguido a vitória... Aquela conversa de técnico de futebol.

Foi, porém, na única resposta dada pelo atleta à única questão que lhe foi feita, que todos sentiram o drama da coisa:

- E aí, o que falta pra você voltar a apresentar o seu melhor futebol?

- Neve.

O empresário do atleta riu.
O presidente do clube chorou.

______________________________
* Texto de Maurício Kehrwald

Nossos pais estavam errados

Não adianta, fomos enganados.
Se você urina de pé e tem entre vinte e poucos e trinta e alguns, já descobriu, mas nunca é demais lembrar: fomos, repito, enganados.
Todos nós, integrantes de uma irmandade de embusteados por quem menos deveria nos enganar: nossos progenitores; nossos pais.

- Maurício Eduardo, não vai jogar bola sem antes fazer os temas! (aqui no Rio Grande nós chamamos a lição de casa de tema)
- Mas, mãe... eu vou ser jogador!
- Não delira, guri! Quer ter um futuro? Estuda! Tem que estudar se quiser ter em emprego bom e blablablá...

Emprego bom?
Estudar?

Anos depois:

- Conseguiu emprego?
- Claro que não, velha filha da puta! Tô quase formado e não arrumo um emprego que me pague mais de 500 pilas!
- Ah, é assim mesmo...
- Assim mesmo é o teu cu. E agora já tô muito velho pra jogar futebol.
- Olha o respeito com a tua mãe...
- Respeito é o caralho. Eu tô fudido.
- (...)
- Vou sair. Sobrou R$6 e eu posso tomar um litro de vodca pra esquecer que eu nasci.

Ou isso ou você explica para os que arruinaram sua vida que o Avestruz, volante pesado, anão e atarracado )além de, dizem as más línguas, bêbado e gaveteiro) ganha por mês o que ele ganham - juntos - em um ano.

Você pode xingá-los e culpá-los.
Ou lamentar por não ter insistido mais.

Infelizmente, pra você não há mais tempo.
Mas sempre há uma parte engraçada: você não terá outra vida para realizar este sonho.

Ah, esta não é a parte engraçada!

A parte engraçada é que o Avestruz, agora 2 quilos mais pesado e um ano mais velho, foi contratado pelo Vasco por R$40.000 por mês e você não ganhará isso nos próximos 3 anos.

É irrevogável: nossos pais estavam errados.

__________________________________
Texto de Maurício Alejándro Kehrwald

Pura Imagem

Coloquei algumas imagens aí do lado, randômicas.
Conforme for, vou adicionando outras.
Pena que não se pode colocar trilha sonor, ficaria muito pesado (aliás, este blog está com muitas "pop ups", a maioria das quais não sei a procedência. Mas vamos resolver isto).
De qualquer maneira, aqui está a trilha sonora (indicada) para assistir às "puras imagens":
http://www.sombreroluminoso.com.br/mp3/paraguay.mp3

Desfrutem.
Logo mais tem postagem, espero.

Camisa 10 *

* Por Maurício Kehrwald

Sabem como é, aquela coisa de histórias em família.

Só que no caso do Paulo, já não era mais só história: havia tomado o statusde lenda. E, como de praxe nestes casos, ganhava proporções maiores a cada atualização ou novo relato.

Tudo corria dentro da normalidade, até que o Pedrinho, filho do Paulo,começou a crescer.

E a se interessar pelas histórias sobre o pai.


- Teu pai jogava muito, guri...

- Muito?

- Muito!

- Em qual posição ele jogava?

- Camisa 10, meia-atacante!

- Nossa...


Na escola, durante o recreio, resolveu passar adiante uma das histórias queo tio lhe contara. Encostou no Sardinha, seu colega de sala e doente por futebol:

- Ô, Sardinha, sabia que meu pai foi meia-atacante?

- E ele era bom?

- Muito! Camisa 10. Artilheiro...

- É? E em qual time ele jogou?

- Não sei!

- Como não sabe?

Não sabia. Esquecera de perguntar este detalhe para o tio.Decidiu descobrir direto na fonte.

- Paiê, em qual time tu jogavas?

- Vários times, filho! – respondeu enquanto largava o jornal

- Algum time bom?

- Claro, filho! Joguei no São Paulo, no Inter, e...

- No São Paulo?! No Inter?!

- Er... não, filho... no São Paulo de Rio Grande e no Inter de Santa Maria,que são times muito tradicionais e importantes do futebol gaúcho...

- Ah... mas ganhou algum campeonato?

- Alguns, filho... sendo que os mais importantes foram os dois títulos consecutivos do interior...

- Como assim, título do interior? Que campeonato é esse?

- Na verdade é como chamavam na época quem chegava logo atrás de Grêmio e Inter ao final do Campeonato Gaúcho...

- Ah, entendi...

- Entendeu, filhão?

- Entendi. Os teus maiores títulos foram dois terceiros lugares no Gauchão.

- (...)

- Pai?


Nessa hora, o Paulo, que apesar de paciente também tinha limites, estavalouco pra enfiar a mão no guri. Mas teve calma e prosseguiu.

- Eram outros tempos... tu nem eras nascido ainda, e... anh... bem...

Nessa hora a melhor coisa a se fazer é, claro, mudar de assunto. Mas não foi, mais claro ainda, o que o Paulo fez.

- ...eu também fui artilheiro do Carioca em 82, quando o Flamengo comprou o meu passe.

- Flamengo? Verdade, pai?

- Aham...

Afinal, se é pra mentir, que se minta bem!

- Oba! Vou contar isso pro Sardinha.

- Vai lá...

- Demais! Ele é fã de futebol e herdou um montão de revistas do pai dele.Com certeza tem o teu nome lá, em alguma delas...


Foi aí que o Paulo percebeu a bobagem que fizera. Seria desmascarado.Brutalmente desmascarado.Haveria de carregar aquele opróbrio como um pesadíssimo fardo, às costas,até o derradeiro dia de sua passagem por este plano. Precisava consertaraquilo, e ligeiro.

- Ei, filho, espera... tu precisas mesmo contar isso pro teu colega?

- Claro, pai... me orgulho de ti... mas... é verdade isso mesmo, né?

- Claro, claro... só avisa ao Tainha...

- Sardinha, pai.

- Isso. Diga ao Sardinha pra procurar o artilheiro daquele campeonato pelo meu apelido da época. Pelo meu nome ele não vai achar.

- Apelido?

- Isso, filhão! – suando muito, mas muito frio

- Tá, e qual é o apelido, pai? Espero que não seja complicado... eu ainda não conheço quase nada de futebol, sabe...

- Zico!


A mãe do Pedrinho, indignada, teve que trocar o filho de escola. Nosso meia-atacante camisa 10 dormiu no sofá por 5 semanas consecutivas e a criança, passados 10 anos – hoje com 18 – ainda não voltou a falar com o pai sem ser por monossílabos.Ah, sim, o tio do Paulinho é considerado persona non grata na casa.
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Penalidade Máxima e ainda Football Factories

Assisti ao filme "Mean Machine" (título em português: Penalidade Máxima).
O filme, bem, aí vai a sinopse:
"Um ídolo do futebol é expulso do time devido à acusação de ter manipulado um resultado e, logo depois, agride um policial e é preso. Ele recebe então a proposta para que treine o time dos guardas da prisão. Com Vinnie Jones".

Na verdade ele é "ex-ídolo, porque não joga mais e vendeu um jogo entre Inglaterra e Alemanha. A sinopse também não me deixou interessado no filme, mas como era sobre futebol...vamos lá.

O filme não é ruim, mas não recomendaria pra quem não está disposto a gastar R$ 2,50 num filme "normal". Mas tem alguns momentos.

Resumindo a coisa toda, acaba que ocorre um jogo entre presidiários e guardas na prisão inglesa onde está o ex-ídolo. Ele lidera o time dos presidiários. Tem alguns momentos engraçados, bastante clichês e mistura o mundo "da detenção" com o mundo futebolero.
A edição da partida entre "detentos x guardas" é longa, mas se tratando de "filme de futebol" até que as ações não são das piores (ao contrário de vários outros filmes). No caso deste, eles levam vantagem porque têm que representar um jogo amador, então se torna mais fácil lidar com falta de velocidade, etc. Ficou "ajeitado".



Ficha:
Título Original: Mean Machine
Gênero: Comédia
Tempo de Duração: 99 minutos
Ano de Lançamento (Inglaterra): 2001
Direção: Barry Skolnick

No elenco, quem assistiu ao "Snatch - Porcos e Diamantes" (um dos meus favoritos), irá reconhecer metade do elenco. Não sei se é por isto, mas na capa do filme na locadora, há uma inscrição que é do "mesmo diretor" de Snatch - Porcos e Diamantes...vendo a ficha técnica aqui, parece propaganda enganosa.
Além deles, aparece também Danny Dyer (foto ao lado) , que foi protagonista em "The Football Factory”, e apresentador do documentário que vou lincar abaixo.

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Este não é ficção. Danny Dyer vai para a Turquia e mostra um dos clássicos mais selvagens do mundo, entre Galatasaray e Fenerbach, pela série "The Real Football Factory - International" . Tem um pouco de imagens do clássico turco no estádio e algumas entrevistas com os envolvidos, além de comentários do próprio ator/repórter. O ator, que não é bobo nem louco, vai com a torcida que é maioria no estádio, inclusive de jaqueta do time, que ele ganha na frente de um bar de torcedores. Mas o documentário é muito bom, ainda mais tendo como parâmetro o que (pouco) se produz sobre futebol. A edição é excelente!
O único "porém" é que esta versão que eu achei é sem legendas, não sei se existe outra legendada. Mas faz do limão uma limonada e além de assistir, treina teu inglês...ou só assista mesmo, as imagens são auto-explicativas, em grande parte dos casos.
Eu gostei bastante e como é uma série, assistirei os demais e depois comento por aqui.

TRFFI - Turquia
TRFFI - Argentina (ainda não assisti, depois comento)

É pênalti!

De: Maurício Kehrwald

A manhã estava ensolarada e tranqüila naquele domingo. Nem poderia ser diferente, afinal, em uma cidadezinha interiorana com tão poucos habitantes (menos de dez milhares, com certeza) não há grandes agitações e percalços, principalmente no dia estipulado para o descanso.


No entanto aquela situação estava para mudar um pouco, e isto era até que esperado, afinal, o glorioso Trevo Verde, no ano anterior, conseguira pela primeira vez em sua cinqüentenária história chegar à primeira divisão do campeonato estadual. E agora, na última rodada, lutava desesperadamente para evitar o descenso ao escalão secundário, de onde possivelmente levaria mais cinqüenta anos pra ascender.

A comunidade prometera mobilização massiva em apoio ao xantorubro, com direito a discurso do prefeito em praça pública e presença dos atletas. Todos numa corrente rumo à vitória e aquela coisa toda...

O dia foi passando, a hora do jogo chegando, a população entrando em polvorosa e lotando o Trevosão, como era chamado o pequeno estádio do município, com capacidade para duas mil pessoas sentadas. A maioria das pessoas levou cadeiras de casa mesmo, e, à hora do embate, sem atrasos, deu-se início à partida.

A equipe da Associação dos Plantadores de Fumo de Coronel Ambrósio – APFCA – como equipe visitante adotou um sistema de jogo visando contra-ataques velozes, mantendo-se postada defensivamente, enquanto o Trevo Verde bombardeava o gol.

Acabou o primeiro tempo, e o segundo foi passando, passando, passando... mas o placar continuava zerado. E não fora por falta de oportunidades. O Ataliba Guerreiro, torcedor-símbolo e ex-atleta da equipe da casa, contabilizara 28 finalizações para o seu time e 12 para “eles”.

Mas o tempo, que é implacável, passou. Aos 38 minutos do segundo tempo o placar continuava do jeito que começara. O desespero começou a tomar conta nas arquibancadas e cadeiras. Badalhoca perdeu um daqueles gols imperdíveis e o atacante da Associação mandou uma bola na trave.

O pânico era evidente, quando, aos 43 minutos, Medeiros paulista adentra a área a tropicões e é erguido pela zagueiro oponente. Pênalti! Pênalti! Pênalti! A torcida delira, o goleiro e artilheiro Palheiras chora. O êxtase é geral.

– É agora ou nunca mais – brada Ataliba Guerreiro.

Os jogadores do Associação cercam o árbitro a gritos beligerantes, trocam empurrões e os 2 policiais presentes, aplicando todo o preparo recebido para dispersar este tipo de aglomeração, dão leves golpes de tonfa (ou cacetete, ou porrete, ou P.R.) nas costelas dos jogadores do APFCA que obviamente se acalmam um pouco.

A torcida do Trevo Verde está radiante, grita, se abraça, chora, esperneia. O técnico da equipe corre pela lateral do campo e grita pro Palheiras – goleiro e artilheiro:

- Ô Palheiras! Vai bater!
- Podexá professor

E corre até o meio de campo, onde para, levando a mão à coxa expressando um semblante realmente sôfrego:

- Professor!
- Quê foi, Palheiras?
- Senti a lesão!
- Aquela?
- Aquela, professor
- Filho da puta!

A lesão em questão curiosamente aparecia toda a vez em que havia um pênalti decisivo a ser cobrado.

- Quem bate? Quem bate?
- (...)
- Medeiros Paulista, bata você!
- Não dá, professor, tô no sacrifício já!
- Câimbra de novo?
- É!
- Medeiros Gaúcho. Você é o capitão! Corre pra bater!
- Não dá!
- Ora, ta lesionado também?
- Não. Eu sou ruim mesmo. O senhor sabe que eu só tô no time porque marco bem.
- Bate bem, você quer dizer! – gritou um adversário que estava já com as canelas inchadas.
- Cala a boca, fresco! – respondeu-lhe o Medeiros Gaúcho
- Ta certo! Ta certo – o treinador estava começando a ficar estressado
- Ô Badalhoca!
- (...)
- Badalhoca! – Gritou mais alto
- (...)
- Cadê aquele corno do Badalhoca
- Ta no boteco comemorando, professor! – gritou o Ataliba Guerreiro, da arquibancada
- Comemorando o que? Não ganhamos é nada ainda!
- Ta lá! Ele sempre ta lá quando não ta aqui. – retorquiu-lhe o Ataliba.
- Ta certo... ta certo...

A torcida começa a ficar impaciente e o árbitro começa a consultar o relógio.

- Quarenta e nove minutos! Quarenta e nove minutos!
- Calma, calma! Alguém há de bater essa merda desse pênalti
- Eu bato professor!
- Quem é você?
- Sou o Zezinho, irmão do Badalhoca!
- Você nem do time é! E tem menos de 14 anos!
- Mas eu bato bem na bola, professor!
- Não dá, moleque, vaza! Nem inscrito no campeonato você está!

E seguiu a conclamação aos guerreiros do time:

- Arioswaldo, vai lá! Você pega forte na bola
- Nem.
- Nem o que?
- Nem vou.
- Ta machucado?
- Não
- Ta nervoso?
- Não
- Ta com algum problema mais sério?
- Também não
- Então...?
- Não to afim. Aliás, vou pro boteco que o Badalhoca ta me esperando...

E foi.

- Mas que time de merda que eu fui arrumar pra treinar! Quem bate? Quem bate?
- Eu bato professor!
- Cala a boca Ataliba. Teu médico te proibiu de chegar perto de uma bola de futebol!
- Mas, professor, eu nunca errei pênalti na vida.
- Também nunca acertou. Por que nunca bateu. Te aquieta aí!
- Professor, eu quero bater.
- Cala a boca aleijado dos infernos! Vai bater pênalti na seleção para- olímpica de velhos bêbados!

Ataliba Guerreiro fechou a cara magoado. Não considerava-se merecedor destas palavras grosseiras. Esse treinadorzinho pensava que era quem? Não sabia quem havia sido o grande Ataliba Guerreiro? Também não ia mais oferecer sua ajuda.

- Quem bate? Quem bate?
- Cinqüenta e cinco minutos... vamos logo com isso! – gritou o juiz
- Calma, senhor, calma! – pedia o treinador
- Professor, eu posso bater?
- Você bate, Sergipe Sergipano?
- Bato!
- Então vai lá
- Vou!
- Vai!
- (...)
- (...)
- (...)
- Ta fazendo o que aí parado?
- Tô com medo, professor! Não vai dar...
- Para de chorar homem...
- Não dá... se eu errar nós caímos...
- Ai meu Deus... eu treino um time de frouxos e de ex-atletas... Quem bate? Quem bate?
- Chama o alemão Günter! – gritou um das cadeiras (de praia, claro)
- O alemão! Isso! Cadê o alemão?

Günter chamava-se, na verdade, Heinrich Günter. Era filho de filhos de alemães e motorista do time e também da prefeitura. Além de fazer bicos como taxista. Havia sido inscrito no campeonato pois a federação exigia que ao menos 20 atletas fossem inscritos. E Günter fora um dos 5 atletas não – profissionais “utilizados” pelo Trevo Verde para o certame...

- Cadê o alemão? – repetia, aos gritos, o técnico
- Ta na van – berrou um lá da arquibancada
- Manda trazer! Diz pra ele calçar as chuteiras e chutar essa merda de pênalti logo que eu quero receber o meu e ir embora pra capital!

E foram chamar o Günter

- Professor?
- Fala, Günter, mete uma camisa aí, um par de chuteiras e cobra logo esse pênalti!
- Eu calço 48, professor!
- Puta que o pariu! Quem tem uma chuteira número 48?

Silêncio

- E 47? 46?

Silêncio

- Eu calço 43. Serve? – perguntou ingenuamente o Cidimar Capixaba
- Vou voltar pra van. – limitou-se a dizer o Günter
- Sessenta e dois minutos – gritou o árbitro da partida
- Bate logo que eu quero ir pra casa – bradou o goleiro da Associação
- Eu já disse que posso bater... – falou o Ataliba Guerreiro, a esta altura já dento de campo.
- Te arranca daqui seu pinguço fedorento! Vai lá beber a tua cachaça com o Badalhoca e com o Arioswaldo!
- Quê que tem eu profezssssor?
- Ari! Que bom que você voltou! Bate o pênalti?
- Bato!
- Bate?
- Bato!
- Ta, toma aqui a bola.
- Qual delas?
- Ai meu Deus!! Quem bate? Quem bate?

Nesse momento há uma certa impaciência geral, tanto por parte da torcida, como por parte dos jogadores de ambas as equipes, e, lógico, do juiz de jogo que insurgia verbalmente xingos variados.

- Ta certo! Cadê o repórter da Rádio Popular?
- Estou aqui, professor! – Respondeu prontamente o dito cujo
- Você ta inscrito no campeonato, lembra? Faltava gente e você aceitou ser inscrito.
- Mas eu não achei que fosse jogar...
- Não achou mas vai. Ele pode bater, senhor juiz?
- Tenho de consultar o fiscal de jogo – respondeu-lhe
- Pois consulte, por obséquio, que eu quero resolver isso logo

O árbitro consultou o fiscal que assentiu com a cabeça.

- Veste essa camisa, calça um par de chuteira emprestado e cobra a penalidade.
- Posso cobrar enquanto eu narro? Sempre quis fazer isso
- Não!
- Então eu não bato o pênalti
- Ta, pode narrar – esta frase saiu quase como um suspiro da boca do pobre homem
- Então está bem, espere aí que vou ali calçar umas chuteiras que eu trouxe.
- Você trouxe chuteiras?
- Claro!
- Mas pra quê?
- Ué! Como assim pra quê? Pra cobrar a penalidade, professor!

O “professor” preferiu nem perguntar nada. Queria que aquele pênalti fosse convertido, o jogo acabasse, ele recebesse a pecúnia que lhe concernia e haveria de desaparecer daquela cidade e tentar arrumar um trabalho na capital.

Talvez um cargo como auxiliar em um clube maior ou treinador de alguma categoria de base. Currículo ele possuía: havia trabalhado com a garotada da Portuguesa de Desportos e conseguido resultados edificantes. Passara também pelas categorias de base de algumas equipes do interior do Rio de Janeiro. Até títulos conquistara.

Agora estava ali, pela primeira vez dirigindo uma equipe “profissional” e não precisava de um rebaixamento para laurear sua estréia.

Foi interrompido de seus pensamentos, pelo árbitro:

- Setenta e três minutos do segundo tempo! Vocês estão de palhaçada. Eu vou acabar este jogo é agora! – ameaçou o árbitro
- Acaba o jogo e não sai do estádio – respondeu à ameaça um torcedor.
- Calma lá minha gente, o repórter já vai cobrar isso ai de uma vez por todas. – Disse, por fim, o treinador.

Volta, devidamente fardado, o repórter. Sorrindo e já narrando sua entrada em campo:

- E adentra-se pelo campo o atleta de nome Carlos Camargo... tem a magnífica tarefa de efetuar o tento máximo da história do glorioso e inexorável Trevo Verde...
- Cala a boca filho de um corno com uma jumenta! Bate logo esse pênalti e vamos embora daqui!
- É! Vamos com isso que eu quero comer minha quentinha no ônibus! – Ganiu, soerguendo a voz, o goleiro do time visitante.

A torcida volta a acomodar-se. Reservas entraram nos lugares dos que desertaram rumo ao bar (no caso, o Badalhoca e o Arioswaldo, que, apesar de ter regressado ao campo, re-regressara ao boteco). Nos seus respectivos lugares: Nelsidor e Vítor.

Silêncio sepulcral. O batedor toma posição. Narrando, ainda.

- E Carlos Camargo prepara-se pra cobrança... espera o apito do árbitro.
- Priii!
- Apitou, correu Carlos Camargo pra bola...

Parou.
Silêncio.

Camargo vira-se para a comissão técnica (no caso, o treinador da equipe) e diz, tétrico:

- Professor... não dá! Acabei de lembrar que meu falecido pai trabalhou plantando fumo em Coronel Ambrósio. Inclusive foi membro-fundador da Associação. Não posso fazer isso com ele... sinto muito.
- Era só o que me faltava! Outro frouxo impotente! Pelo amor de Deus, quem bate essa penalidade?

Silêncio

- Nelsidor?
- Sim?
- Bate o pênalti
- Eu sou reserva do Trevo, professor... que qualificação terei eu pra comprometer-me em empreitada de tamanha relevância para a comunidade, no âmbito esportivo-social...
- Fecha a matraca! E volta a dar aula de comunicação, porque pra futebol você não serve!
- (...)
- Vítor!
- Senhor?
- Você é minha esperança. Você é um tetracampeão de Libertadores da América. Já foi campeão do mundo duas vezes. Tem bagagem e experiência... por favor, dê esta alegria à torcida do Trevo Verde.
- Ta certo, professor... só que tem um problema.
- Qual seja?
- Só bato quando pagarem os atrasados.
- Mas, Vítor. A direção pagará assim que o campeonato acabar, ou seja, daqui a, no máximo, 5 minutos!
- Antes quero ver a cor da grana. Se eu não receber, não tenho como comer, e sem comida o peão não vive.
- Mas você não tem guardado o dinheiro da época em que estava no auge?
- (...)
- Quem bate? Quem bate?
- Oitenta e dois minutos... – murmurou o juiz, quase chorando de raiva. – Eu tenho família também. Amanhã cedo trabalho numa escola. Sou professor de Educação Física...
- Ninguém quer saber o que você faz! – Gritou o Ataliba Guerreiro
- Quem bate? Quem bate?
- Palheiras, como ta a lesão?
- Ta dolorida!
- Mas dá pra bater?
- Não dá!
- Ai meu Jesus amado... quem vai bater?
- Eu disse que bato, você é quem não quer. – Vociferou o Ataliba Guerreiro
- Já não te mandei calar esse bico seu indigente, mendigo e fracassado?
- Ta certo, não vou mais tentar ajudar... mas eu sei quem poderia bater...
- Você, né? – Riu ironicamente o coach
- Fora eu.
- Quem?
- Não importa. Eu não era um mendigo, indigente, fracassado, bêbado e ladrão?
- Não te chamei de ladrão.
- Não?
- Não.
- Ah, certo... (visivelmente encabulado)
- Por favor, senhor Ataliba, quem poderia cobrar esta penalidade máxima a nosso favor?
- Você! – respondeu, cuspindo pipoca por entre os dentes, o nosso Guerreiro.
- Eu?
- É! Na falta de atleta eu soube que o senhor se inscreveu no campeonato
- Certo mas... mas... eu... eu não bato pênalti...

E, na falta de uma desculpa bem arranjada, e, sob olhar acusador da massa presente, percebeu que não haveria remédio. Teria de cobrar ele mesmo.

Acontece que ele nunca havia jogado futebol na vida, fora, claro, umas peladas esparsas quando jovem... no entanto era um aficionado pelo esporte. Acabara conseguindo um emprego na escolinha de um colégio em São Paulo assim que saíra da faculdade. E acabara conseguindo certa notoriedade “pagando uma de boleiro”.
Seria desmascarado. Certo. Mas também não podia ser tão difícil assim acertar uma bola longe do alcance do goleiro, e dentro daquela imensidão absurda que é uma trave de futebol de campo.
Amarrava as chuteiras lentamente, esperando que algum fenômeno ocorresse e esta tarefa fosse tirada de suas mãos – na verdade, pés – e transferida a outra sôfrega alma ali presente.

Calção vestido, camisa posta, meião erguido, chuteira amarrada. Como nada mais faltava, caminhou, pois, até a marca da cal.

Já havia tomado a distância e decidido que era canhoto – afinal ,escrevia com a esquerda, pois chutar bola, mesmo, nem lembrava com qual pé chutava, se é que chutava.

Concentrava-se no canto onde chutaria a bola (o meio), e já preparava uma “lesão” para o caso de errar.

O árbitro sorria um sorriso sádico e estava já em vias de apitar quando, como um último lampejo de esperança, o inefável Ataliba Guerreiro interrompe o ato:

- A quem interessar possa, o jogo entre o Palmeirense e o Campo das Pedras acabou empatado.
- Sim, e eu com isso? – berrou irritadíssimo o treinador-batedor-mártir do time xantorubro
- E daí que o empate lá, rebaixa o Palmeirense e salva o glorioso e esse outro timeco aí do rebaixamento

O capitão do Associação quis protestar quanto ao “timeco” mas preferiu ver onde que aquele circo ia dar.

E o Ataliba continuou.

- O Silveira Serrano já estava rebaixado. E com este empate o Palmeirense fica com o mesmo número de pontos dos dois times que estão jogando aqui... basta um empate pra livrar ambos do buraco.

O rosto do batedor alumia-se, apesar de ser já quase noite, e, dirigindo-se ao todo:

-Alguém aqui se importa com o Palmeirense?

Silêncio

- Alguém aqui ta filmando essa merda toda?

Silêncio

Olha reto para o repórter de campo, que lhe responde bruscamente:

- Ninguém ouve essa bosta mesmo.

E, finalmente, para o juiz da partida:

- Vamos embora daqui?
- Sim, e ligeiro.

Pega a bola em mãos, para o cronômetro, que já marcava quase 100 minutos de jogo, levanta o braço e...

- Priiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

Aí foi só alegria. Até os jogadores do Associação participaram da festa, e, mais tarde, as comissões técnicas mais os jogadores de ambas as equipes (exceto o comandante da equipe do Trevo Verde, que saíra às pressas após receber seus atrasados) chegaram ao boteco, pra comemorar, e mais tarde juravam...

...que o Badalhoca ainda estava ali.
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