Segundona Gaúcha: rodada decisiva

Se na Chave 8 a última rodada será por laranjas e bergamotas, já que Porto Alegre e Cerâmica estão classificados antecipadamente para o quadrangular final com 10 pontos, contra seis do Glória e 1 do TAC, na chave 7 tudo é incerteza.
Na penúltima rodada deste quadrangular semifinal ocorrida nesta fria noite de julho (ao final da partida em Farroupilha, os termômetros apontavam -2º graus), o Pelotas foi a Farroupilha e perdeu por 1 x 0 para o Brasil, gol de Gavião. No outro jogo o surpreendente Panambi deixou escapar a classificação antecipada ao empatar com o Riograndense em casa. Agora decide fora, necessitando ao menos de um empate na Boca do Lobo, contra um sedento Pelotas, que depende de uma vitória simples para se classificar para o quadrangular final, porque empataria em pontos contra o próprio Panambi, mas levaria vantagem no primeiro critério de desempate: número de vitórias. E o Riograndense também dependerá apenas de uma vitória simples contra o já desclassificado Brasil de Farroupilha, jogando em Santa Maria, nos Eucaliptos.
Ou seja, rodada de muito nervosismo para os 3 clubes envolvidos, onde as arbitragens terão muito trabalho.
Pelotas e Riograndense com a faca e a costela gorda na mão, mas não dá pra esquecer que a Segundona Gaúcha tem apresentado resultados surpreendentes, e que o Pananbi é um visitante que chega e se espalha (obteve a classificação para esta fase na última rodada, de visitante, contra o Aimoré, e empatou com Riograndense e goleou o Brasil-FA fora de casa nestas semifinais). A ver.
A rodada decisiva desta chave será realizada na próxima segunda-feira*, às 15 horas.


Classificação Chave 7:
1º - Panambi : 9 pontos (2 vitórias, saldo 4)
2º - Riograndense : 8 pontos (2 vitórias, saldo -1)
3º - Pelotas : 6 pontos (2 vitórias, saldo 1)
4º - Brasil-FA : 4 pontos (eliminado)

Última rodada:
Pelotas x Panambi
Riograndense x Brasil-Fa


* Isto porque o Brasil de Pelotas joga no domingo, em Pelotas, pela Série C do Brasileiro.

Foto: de arquivo, do blog
Futebol Pelotense.

Triste aniversário

Lá em Santana do Livramento, até há alguns anos atrás, existia um tradicional clube do interior do RS, e que contra o 14 de Julho, faziam o também tradicional clássico Gre-Qua. Mês passado, mais precisamente no dia 11 de junho, o Grêmio Santanense completou 96 anos de fundação. Mas um “cumple” meio estranho, para não dizer que não completou 96 anos. Sem festas, sem mobilização, e principalmente sem futebol, o que é muito para um clube nascido com o nome de Grêmio Foot-Ball Santanense.

Como maior feito de sua história, o Grêmio Santanense tem o título de Campeão Gaúcho de 1937 (equipe campeã na foto abaixo).

Mas acho feito ainda maior, um detalhe do uniforme do Santanense, mas que graças a muitos de seus jogadores e diretores, conseguiram através de campanhas dignas, fixar esta marca inconfundível: apesar de ter “Grêmio” no nome, e possuir as cores alvi-rubras (o que no RS poderia mais confundir ao “grande público” do que qualquer outra coisa), o clube possuia forte identidade, e bastava olhar aquele time de camisa vermelha, mas com mangas brancas entrar em campo, que ninguém tinha dúvida: era o Grêmio Santanense, e com esse detalhe se diferenciava de todos os tantos times alvi-rubros do Estado.

Os anos passaram para o Grêmio Santanense, assim como passaram-se os anos para a maioria dos clubes do interior do RS, especialmente os da metade sul do RS: ficou a tradição, foram-se os grandes times e o pior, vão-se os torcedores também. O massacre via sucursais da RBS TV pelo interior, como já foi comentado antes aqui no PF,é um dos maiores responsáveis, junto com o bom marketing de Inter e Grêmio nas cidades do interior. Não sei de números, mas aposto alguns reais que tanto Grêmio como Inter, separadamente, possuem mais sócios em Livramento, do que Grêmio Santanense e 14 de Julho somados, nas suas melhores épocas. E isto ocorre por todo o interior. Ainda não decifrei o que passa na cabeça de uma pessoa, para gastar tempo e dinheiro com um time de fora da cidade, que além disso é muito bem financiado por seus milhões de torcedores, enquanto os times de sua terra não recebem nada, vão à falência e acabam fechando suas portas em muitos casos. Isto só tem um nome: traição, deixar vendido, ser um “noveleiro do futebol”, que só acompanha a fantasia da TV, enquanto a realidade bate à porta, ali na arquibancada ao lado, clamando por torcedores, mas permanece vazia.

Na foto abaixo vemos ao fundo a torcida comparecendo em um Gre-Qua. Eram assim os campos do interior gaúcho. Hoje em dia, nem clássico tem mais. Crime hediondo contra o futebol.


O Grêmio Santanense, depois de algumas boas campanhas nos anos 90 na primeira divisão gaúcha, caiu para a Segundona em 1997, permanencedo por ali até o ano de 2003, quando desistiu da Série B e se licenciou, estando fechado até hoje.

Como não moro em Santana do Livramento, e nem tenho informações de lá, não tenho como saber os exatos motivos que levaram ao fechamento do Grêmio Santanense, mas mesmo não tendo conhecimento disso, dá para perceber que a manutenção desta situação é inacreditável. Não existirá um grupo de torcedores do Grêmio santanense disposto a encarar esta briga? Montar um time ao menos de juniores para ir aos poucos formando uma base seria uma solução viável financeiramente. Ir negociar com a prefeitura o combustível das viagens (a gente sabe como são onerosas as viagens para os clubes do interior) e batalhar algumas empresas que se comprometam com o clube. É muito fácil para estas empresas irem pro interior, de lá retirar seu justo lucro, mas não se comprometer em nada com as coisas da cidade. E na hora de patrocinar o esporte local, nada, é tudo para os mesmos de sempre.

Um triste aniversário este do Grêmio Santanense. Mais um ano fechado, chegando próximo o seu centenário. Em Livramento, o 14 de Julho ainda luta, na raça, para se manter em atividade, pois sofre de todas estas dificuldades também. Torço para que se mantenha sempre em atividade, e que um dia possa enfrentar o velho rival, num Gre-Qua em que a cidade pare, dentro de um dos estádios, e não na frente de uma TV.



Para finalizar, deixo um texto que encontrei na pesquisa para esta postagem, de alguém com muito mais propriedade, porque além de ser jornalista e escritor, é filho da terra, ainda que ardoroso torcedor do colorado da Capital: (publicado no

jornal A Platéia)

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Emoção e Saudade *
Há poucos dias, conversando com um conterrâneo residente em Porto Alegre, perguntei-lhe se poderia ajudar na localização de fotos de época do time do Grêmio Santanense. Ele prometeu ajudar, sem muito entusiasmo.Meu interesse em relação a tarefa que me impus segue inalterado, embora os resultados tenham sido modestos. A razão do meu interesse não é a do colecionar de revistas antigas nem a do filatelista obsessivo na localização de selos. Ou do historiador acadêmico que se abraça com os livros para aumentar os títulos de sua obra e obter mais prestígio junto ao seus pares.Meu interesse na localização das fotos de época do Grêmio Santanense tem a vibração energizante do sentimento amoroso..É compreensível. Mesmo que eu me entregasse ao exercício masoquista de ocultação do passado, para me jogar por inteiro na caudal do presente, parte da minha adolescência vivida no espaço mágico da Vila Honório Nunes continuaria preservada. Não sou louco para matar a lembrança do guri espigado que sempre dava um jeito para se misturar com os freqüentadores mais ilustres do pavilhão de madeira do estádio e aplaudir as jogadas dos meus ídolos. Não sou idiota para jogar fora a foto em que apareço no meio de outros adolescentes que dividiam comigo o gramado de Honório Nunes, vestindo as camisas das divisões de base. Eu ficaria com o sentimento dilacerado por imenso prejuízo. Mas, voltando a obsessão pelas fotos de época do Grêmio Santanense. No fundo, o que desejo, se Deus me der forças para tanto, é escrever um livro, fartamente ilustrado, com a bela história do Grêmio Santanense, campeão estadual de 1937. Este, aliás, seria um capítulo escrito com especial esmero. Eu tentaria informar, na medida do possível, quem foram aqueles heróis do título, comandados por Ricardo Diez, mais tarde técnico do famoso Rolo Compressor, do Internacional, nos anos 40. As novas gerações de santanenses e amantes do futebol tem obrigação de ter estes nomes na ponta da língua: Brandão;Alfeu e Seringa;Gabriel, Mascarenhas e Pepe Garcia (Pasqualito); Sorro , Bido , Hortêncio Souza e Tom Mix. Até que o livro saia, ou não, dependendo das colaborações indispensáveis para a sua realização, lamento profundamente que o Grêmio Santanense viva na mais triste e desanimadora inatividade. O que terá acontecido com o Luiz Paulo Dutra, tão guerreiro, tão abnegado combatente do principal grupo de dirigentes do Grêmio Santanense de todos os tempos? O que aconteceu com outros torcedores do clube, que se conformam em ver por anos e anos o estádio fechado, sem que haja no seu interior nem mesmo a atividade risonha dos meninos das categorias de base? Tenho certeza de que na minha próxima viagem a Sant´Ana do Livramento a situação já será diferente. Se todos os torcedores mais velhos do Grêmio Santanense já se entregaram à corrosão do tempo, se já não vêem nenhum encanto no engajamento das atividades cotidianas, se já desistiram de ver o time entrando em campo com suas camisas vermelhas, que ao menos contem para seus filhos o que sabem a respeito da grande história do clube.Os jovens torcedores do Grêmio Santanense não vão me decepcionar. A eles cabe a tarefa urgente de erguer bem alto o pavilhão vermelho. O Grêmio Santanense não pode integrar o elenco de instituições que existiram e desapareceram na paisagem da cidade. O general José Antonio Flores da Cunha, que convenceu o Alfeu a atuar no Grêmio Santanense em 1937, está acenando lá de cima para dizer que concorda comigo. Ele gostaria de assinar seu nome nesta crônica calcada na emoção e na saudade
.”
* Kenny Braga
Fotos: do site Filhos de Santana, via blog Relíquias do Futebol.
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