A dancinha do Fernando Henrique

A Copa Libertadores, como diz um amigo meu, é a "Liga dos Milagres".

E é verdade. Não existe torneio no mundo com tamanha mística, com tantas viradas, com tanta emoção. A Libertadores é futebol em estado puro, genuíno. É tão mística que muitas vezes passa a impressão de que a copa "escolhe" o vencedor. Em certas edições, o torneio cria vontade própria e decreta o campeão.

E isso aconteceu esse ano.

Não durante as duas partidas, duas peladas ótimas de se assistir, com vários gols e centenas de erros de passes. E sim na decisão por penaltis.

Tipo...
a Libertadores já não tem muita simpatia pelos cariocas. Pelo Fluminense então... havia disputado 2 edições, eliminado precocemente em ambas, por clubes não lá muito grandes também. Em 2008, depois de uma mobilização e milhões gastos em contratações, o Fluminense chegou! Venceu São Paulo e Boca Juniors, de modo 'copeiro', raramente perdendo chances de gol. No meio dessas vitórias, a campanha da rede Globo para fazer os brasileiros torcerem pelo Fluminense foi bem fiasquenta, as transmissões foram vergonhosas, com manipulação de áudio para transformar a torcida do Fluminense, historicamente quieta e corneteira, em uma massa de apoio inexpugnável, uma força avassaladora que vinha das arquibancadas "cheirosas" do Maracanã, com muito pó-de-arroz e purpurina.

Chegou na final contra a LDU, clube que vinha fazendo boas campanhas e base da emergente seleção equatoriana. O empate de 5x5 ao final de mais de 210 minutos de futebol levou a Copa para mais uma decisão por penaltis.

Bom, cheguei aonde queria: os "penáis"... quando a vontade da Libertadores se manifestou, após ser zombada.

"Pero, que se pasó, boludo?"

Boludo não, mais respeito! Então, che... acontece que depois de defender seu penalti, Fernando Henrique não comemorou como gente normal - ele saiu dançando. Pois é, o cara defende um penalti na decisão da Libertadores, e sai dançando, requebrando, com sorriso no rosto, tirando sarro da história do torneio, guspindo (sim, com G) na memória de goleiros-heróis como Chilavert, Zetti, Henao, Córdoba e Higuita. Uma cena que gerou vergonha alheia em todo o continente.

Talvez, no Rio, seja tradição comemorar com assim, dançando na boquinha da garrafa. Mas a Libertadores não entende, ela é séria e amarga demais, ela gosta de sangue, gosta da vontade acima da técnica - ela só permite a alegria depois do sofrimento. Ninguém nunca venceu uma Libertadores sem respeitar a sua história e sem se moldar aos seus eternos clichês. O Fluminense quase conseguiu.

Quase.

Seria demais, um exagero, permitir que um clube médio como o Fluminense vencesse a Libertadores dentro do Maracanã. Com o ridículo Renato Portaluppi vomitando asneiras, pior ainda. Com Thiago Neves virando herói, quase impossível. Com a dancinha, o limite foi estrapolado. Não existe seriedade numa dancinha daquelas, não existe nada que lembre futebol de verdade naquela dancinha. Quando Fernando Henrique requebrou, La Copa sentenciou: "no ganaran".

O Fluminense perdeu a final mais fácil da história da Libertadores, e Cevallos, típico goleiro sulamericano (tosco, espalhafatoso, catimbeiro, cabeludo e pegador de penaltis), se tornou o herói da noite.

Ao que só me resta dizer: chora, Pedro Bial!
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