As pelotas de todas as Copas

Futebol é também cultura e história. Através das bolas utilizadas em cada Copa do Mundo, pode-se observar a evolução do equipamento esportivo. Mirando as redondas, nota-se claramente que a maior evolução ocorreu entre 1966 e 1970. Depois de 70, é algo bem parecido com o que vemos hoje em termos de bola. Começamos com a polêmica e já famosa Jabulani. Sobre o nome da bola de 2010, eu comentava aqui em casa: "Querem apostar que vai ter um monte de guria batizada com este nome?". Perderia a aposta, mas não por vontade dos pais e sim por veto de um tabelião com bom senso. Então vamos viajar, de 2010 até 1930, começando pela Jabulani - África do Sul, 2010.

Jabulani - África do Sul 2010




Teamgeist (Espírito de Equipe) - Alemanha 2006




Fevernova - Coréia do Sul/Japão 2002






Tricolore - França 1998 (A primeira a não ser preta e branca)






Questra - Estados Unidos 1994 (Foi projetada apenas para ser usada em 94, mas devido ao sucesso acabou sendo utilizada na Euro 96 e Olimpíadas de Atlanta).





Etrusco Unico - Itália 1990 (Primeira com impermeabilização total)






Azteca - México 1986 (Primeira bola sintética em Copas do Mundo)






Tango España - Espanha 1982 (sequência da Tango utilizada na Argentina. Recebeu impermeabilização nas costuras).





Tango - Argentina 1978 (Não tenho certeza, mas acho que foi a primeira a levar o nome da cidade em que o jogo era disputado. Hoje dia a bola recebe inclusive os nomes dos países que disputam a partida).





Telstar Durlast - Alemanha 1974 (Esta tem impresso o nome do país)






Telstar - México 1970 (Primeira bola da Adidas confeccionada para uma Copa do Mundo. Uma notável diferença com relação às anteriores).






Inglaterra 1966 (Esta da foto abaixo foi utilizada no jogo Inglaterra x Argentina).








Chile 1962







Suécia 1958







Suíça 1954 (A primeira a colocar o nome do país organizador)







Brasil 1950






França 1938 (Esta está judiada)






Itália 1934






Uruguai 1930 (A primeira. Esta bola pode ser vista no Museu do Estádio Centenário, em Montevidéu).




Fotos e ideia pra postagem: Deportivo Olé (Argentina).

Alguns Estádios interessantes da Copa África 2010

O texto abaixo é do Luciano, do Trincheira Cerebral, que de vez em quando escreve também sobre futebol. O blog dele trata sobre uma infinidade de assuntos, vale a visita (o endereço do Trincheira Cerebral está fixo ali nos "links extra-campo").
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Alguns Estádios interessantes da Copa África 2010

Eu comecei a pensar em escrever este post depois do jogo da Alemanha x Austrália.
Do alto de minha sapiência futebolística (como podem comprovar através dos palpites), só comparada ao Galvão falando de música e futebol, achei que uma das favoritas é a Alemanha. Mas agora, não dá mais para fazer previsão nenhuma sobre os jogos da copa. A Alemanha perder para a Sérvia foi o equivalente ao Dunga não usar gola rolê durante os jogos, praticamente impossível, quase uma utopia.

Mas outra coisa que me chamou a atenção foi o estádio, que achei impressionante. Já tinha achado o Soccer City muito legal, mas o Moses Mabhida achei impressionante. Não tinha prestado muita atenção aos estádios antes, mas são uns panelões. As tais vuvuzelas nestes estádios devem triturar a sanidade de um cidadão. Por um momento estavam considerando proibir, para deleite do público nos estádios (acredito eu) e infortúnio do público televisivo global (poderíamos ouvir melhor o Galvão), mas parece que desistiram. O som tá melhor que o futebol e já que a China fabrica 90% das vuvuzelas da Copa, se as proibíssem nos estádios, o que os torcedores da Coréia iam fazer nos intervalos dos jogos? Para completar a curiosidade, cada vuvuzela sai a preço de custo R$ 0,50 e produz 127 decibéis. O inferno não sai caro, é baratinho baratinho. Lembrem disso.

Voltando ao assunto, resolvi então, para encher lingüiça, fazer esta postagem sobre alguns estádios da Copa do Mundo 2010 - África. Talvez complete depois, talvez não.

Soccer City - O canecão de cerveja!



O Estádio Soccer City, Johannesburgo, é um dos mais tradicionais do continente, já bem conhecido dos africanos. Foi nele a final da Copa Africana de Nações, em 1996, quando a África do Sul conquistou o título com 2x0 em cima da Tunísia. Construído na década de 80, reformado para o Mundial de 2010, teve sua capacidade ampliada de 80 mil para algo entre 88.460 / 94.700 lugares. Fica perto de Soweto. Foi no Soccer City o primeiro grande comício de Nelson Mandela após a saída da prisão, em 1990 e também o funeral de Chris Hani, em 93. Será palco do jogo de abertura e da decisão da Copa de 2010. A forma e o layout atual foram inspirados no Calabash, um pote tradicional africano, que os alegres africanos enchem e compartilham a cerveja. A Calabash é feita da Lagenaria siceraria, uma cucurbitácea (parente do nosso mogango, mas não se falam)




Esta é a Lagenaria siceraria, Calabash para os íntimos em seu estado natural e depois pronta para a festa. Além disso, saibam também que o cachimbo de Sherlock Holmes é feito de Calabash (algumas partes).





Abaixo vocês podem observar um feliz e compenetrado Guerreiro Zulu bebendo sua cervejinha em sua Calabash social (detalhe para as sobrancelhas do guerreiro ébrio..). Na próxima foto, a anarquia impera: A Calabash grupal comemorativa! Preste atenção no semblante de quem não esta de posse do trago!




Moses Mabhida - O maior Bungee Jump da África



Estádio Moses Mabhida - Considerado um dos mais bonitos da Copa, inclusive por mim, o estádio de Durban tem uma arquitetura bem diferente, com destaque para o grande arco que liga os trechos norte e sul, que faz uma referência a bandeira da África, além de um anfiteatro e um teleférico que será instalado depois da copa e dará aos turistas uma vista especial da cidade litorânea. O pessoal vai poder andar de bondinho e caminhar em cima daquele arco. Foi construído como substituto ao Kings Park, já demolido. O Estádio é nomeado homenageando Moses Mabhida, um militante contra o Apartheid, Tem capacidade para 70.000 vuvuzelas (:=D), mas por razões de segurança, acredito eu, depois da Copa ficará com capacidade para 54.000 pessoas. O Brasil joga lá contra Portugal (medo?), no dia 25/06, as 11:00.




Imagina o pulo...

Essa imagem do Mabhida visto de cima, se tirarmos o arco, lembra também..hã..esqueçam.




Ellis Park - sem frasezinhas engraçadinhas


Estádio Ellis Park - Mais conhecido pelos jogos de rúgbi em Johannesburgo. Inaugurado em 1928, hoje em dia comporta 70 mil lugares. Muito mais lembrado pelo pisoteamento de dezenas de pessoas em abril de 2001, durante uma partida entre Orlando Pirates e Kaiser Chiefs. Foi o local de estréia do Brasil, como impressionante placar de 2x1 sobre os coreanos-chineses e também será palco de uma semifinal do grupo G. Foi lá também que o Brasil ganhou a Copa das Confederações, em 2009, sobre os Estados Unidos, por 3x2. O filme Invictus, com Morgan Freeman que mostra entre outras coisas o título de rúgbi conquistado em 1995 pela África, tem o Ellis Park como "protagonista".

Nos tempos do Rubgi


Esquecendo um pouco as cheerleaders, e especialmente para relembrar os alcoolizados e ensandecidos turistas brasileiros que circularam pelos arredores de Ellis Park na terça, dia 15/06, durante a estréia do Brasil, e avisar os que pretendem ir na semifinal lá, a Trincheira Cerebral lembra que esta plaquinha foi retirada do estádio, antes da copa:


Tradução: Cuidado com seqüestros, assaltos e quebrar e agarrar (quebrar o vidro do carro e roubar).

Estamos acostumados. Não quero estragar a festa (eu não fui...) mas a região teve um total de 7.089 assaltos entre abril de 2008 e março de 2009, segundo dados oficiais da polícia sul-africana (copiados diretamente daqui). Aconteceram ainda 88 assassinatos (mais 82 tentativas) e 521 ocorrências de crimes sexuais. E a notícia que os crimes sumiram, neste link.


Nelson Mandela Bay




Estádio Nelson Mandela Bay - O estádio escolhido para a decisão do terceiro lugar e uma das quartas-de-final da Copa 2010 é o primeiro destinado exclusivamente para o futebol na região de Port Elizabeth, no sul do país, pois para adaptar o EPRU Stadium (já existente) para a copa seria muito dispendioso, tendo que praticamente reconstruí-lo. Então, montaram um novo. O Nelson Mandela Bay tem como atrativo para os turistas uma vista privilegiada do Lago North End, o estádio Nelson Mandela Bay também será usado após a Copa para shows e eventos. É chamado de Girassol (the sunflower) pela semelhança com pétalas de sua cobertura. Foi o palco da vitória da Coréia sobre a maravilhosa seleção da Grécia.




Quem quiser saber sobre os outros estádios, aqui no site da toda-poderosa FIFA tem. Por hoje é só pessoal. PORTO ALEGRE!
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Texto de Luciano, do Trincheira Cerebral, colaborando com o Puro Futebol.

Cruzeiro é da A

Se em anos “normais” a Segundona Gaúcha é deixada em 10º plano, imaginem em ano de Copa do Mundo. Mas no ano da graça de 2010 Ela ainda está em disputa e na sua fase derradeira. Então, vamos ao que realmente interessa no futebol mundial.

Na tarde de hoje, o Cruzeiro atingiu o acesso para 1ª Divisão. Fundado em 1913 (portanto inspirador do Cruzeiro de Belo Horizonte e não o contrário, como muitos desavisados pensam), campeão gaúcho de 1929, o clube estrelado não disputa a 1ª divisão há 32 anos.

O acesso chega com uma rodada de antecedência, e para obter o título (sem dependência do outro jogo) deve empatar a próxima partida, fora de casa, contra o também postulante a uma das vagas, Lajeadense.

Na partida da tarde de ontem, o Cruzeiro venceu o Brasil de Farroupilha, pelo placar de 3 x 2, chegando aos 10 pontos conquistados. Mas a vitória foi dramática. Um primeiro tempo fácil e tranquilo: 3 x 0 para o Cruzeiro. Já na segunda etapa, o pavor: o Brasil marca dois gols, tornando o empate uma ameaça real. Para alegria cruzeirista, manteve-se assim até o final. No outro jogo da rodada, o São Paulo (outro clube que teve o nome copiado no centro do país) empatou em casa com o Lajeadense, comprometendo sua aspiração de conseguir o acesso.

Aliás, esta rodada foi polêmica também fora de campo. A Federação Gaúcha de Futebol determinou que as partidas fossem disputadas no mesmo horário. Como o Cruzeiro não possui iluminação artificial em seu campo, o jogo do São Paulo, que estava marcado para às 20h30min, foi antecipado para a tarde, para revolta da torcida e direção rubro-verde. O São Paulo, pelo caráter decisivo da partida e pelos públicos recentes no Aldo Dapuzzo, contava com casa cheia para empurrar a equipe. Com a mudança, claramente prejudicial para os planos do São Paulo, a direção do clube cogitou até mesmo abrir os portões para a torcida (fato que não sei se ocorreu).

Apesar de jogos no mesmo horário colaborarem para a lisura de qualquer campeonato, esta não era a última rodada, e mesmo com o líder (Cruzeiro) jogando de tarde, independente do resultado da partida Cruzeiro x Brasil, os clubes envolvidos no jogo de Rio Grande teriam que lutar pela vitória, não restando qualquer espaço para combinação de resultado entre os adversários. Além disso, Porto Alegre conta com o estádio do Passo D’Areia, com iluminação artificial e melhores condições para a transmissão da TV (que, com o jogo no horário da tarde, teve que disputar atenção com o jogo da Copa do Mundo). Se fosse para manter a decisão de jogos no mesmo horário, seria mais lógico que o jogo do Cruzeiro fosse colocado de noite, em outro estádio da capital, não prejudicando as torcidas (pelo horário) e nem punindo o clube que possui sistema de iluminação, como de fato acabou ocorrendo.

Mesmo com estes argumentos a FGF manteve a decisão, alimentando a justificada revolta são-paulina e certas teorias conspiratórias. Isto porque, parte da torcida do São Paulo, já desde a 2ª rodada deste quadrangular, acha que é desejo de muitos que o Cruzeiro dispute a 1ª divisão, poupando a dupla Gre-Nal de mais uma viagem ao interior.

De qualquer maneira, a equipe e torcida cruzeirista nada tem a ver com isto e merecidamente obtiveram o acesso e, quem sabe, o título da Segundona 2010.

Para os outros clubes envolvidos, resta o consolo de que todos possuem chances (apesar de apenas o Lajeadense não depender de outro resultado), senão vejamos tabela e próxima rodada:

Classificação atual:
1º Cruzeiro.........10 pontos
2º Lajeadense
...07
3º Brasil..............05
4º São Paulo........05

Última rodada:
Brasil-Fa x São Paulo
Lajeadense x Cruzeiro

A Segundona Gaúcha chega ao fim e mais uma vez não são apenas os apontados como favoritos conseguem o acesso.

Parabéns ao Cruzeiro pela conquista do acesso, dentro da mais inóspita e peleada competição do país.

Fotos: Ricardo Giusti/Jornal Correio do Povo

Primeira rodada Copa 2010

E a Copa 2010 encerrou hoje sua primeira rodada. Quase tudo dentro do esperado, inclusive as infernais vuvuzelas (também conhecida como corneta de plástico, para quem tem mais de 6 anos de idade) . O narrador do Sportv, Milton Leite, relatava hoje no jogo entre Espanha x Suíça, que no vôo que levava a equipe para Durban, as aeromoças pediam, entre os procedimentos habituais de segurança, que não tocassem as cornetas durante o trajeto. Quer dizer, dentro dos estádios é uma mania dos locais, mas entre os alcoolizados turistas, virou um inferno nas cidades que recebem os jogos, levando o maior shopping da África do Sul a também proibir o toque do berrante em seus domínios.

Mas hoje elas foram silenciadas pela goleada charrua contra os donos da casa. Os 3 x 0 tocados pelos uruguayos, além de abrir cancha rumo à classificação celeste, quebrou com um jejum em Copas que durava desde 1990 (5 jogos sem vitória, desde Uruguai 1 x 0 Coréia do Sul, no referido ano). Infelizmente não pude assistir a esta partida, mas os comentaristas diziam que o Uruguai iria ser mais ofensivo (em relação ao primeiro jogo). Não sei se foi este o motivo dos 3 gols, resta ver o VT.

Dos jogos que assisti, o melhor até aqui foi Espanha x Suíça. E não pela propalada técnica da Fúria, que até esteve presente, mas pelas duas propostas distintas de jogo, em que a Suíça saiu vitoriosa e com grande mérito. A Suíça, apesar de não levar gols em Copas a não sei quantos jogos (só sei que tenta quebrar o recorde da Itália em minutos sem tomar gols) é meio que vista com escárnio, até porque a mesma facilidade com que tem em se defender, é inversamente proporcional na hora de fazer gols. Mas além deste quase folclore que se criou, ao menos no jogo de hoje a Suíça mostrou-se uma equipe realmente sólida na defesa, com boa saída de jogo (para padrões de times europeus-retrancados), ainda que escassas. Sofreu um contra-ataque de perigo, em lance que estava cobrando um escanteio. Devem evitar escanteios a favor, portanto. Além do mais, o jogo foi outro balde de água fria na imprensa firulera, que esperava o jogo de hoje para mostrar aos brasileiros como deve portar-se uma equipe favorita.

Deve doer na alma moleque-arteira-firula-perdebonito-goleadassempre ter que citar como exemplos, os resultados de Alemanha e Uruguai.

Segue a Copa 2010 e acho que não teremos surpresas - novamente - sobre quem será o campeão.

Foto: El País - Uruguai

Pequena farsa gaúcha

Já comentamos aqui no Puro Futebol sobre o estilo gaúcho de jogar futebol. A tal da peleia, rispidez, entre outros. A leitura do texto lincado esclarece a minha (irrelevante) opinião sobre o tema.

Mas hoje divagava sobre as diferenças sobre a Série A do Gauchão e Segundona Gaúcha. Quem(?) acompanha o PF a mais tempo sabe que sempre defendi a Segundona Gaúcha como a melhor competição do continente, só sendo alcançada por algumas competições platinas e pela Libertadores. No caso da Libertadores, a questão é custo-benefício, no sentido de que, para uma competição “glamorosa”, até que é bem disputada. Poderia ser como a insossa final da Copa dos Campeões da Europa. Ainda bem que não é, e agradeçam à famigerada Conmebol, que ainda não se rendeu às pressões dos comentaristas frouxos e fracos da Rede Globo. Acho que eles nem entendem a Língua Portuguesa, na verdade (os da Conmebol, os comentaristas, tenho certeza). Ainda bem.

Sobre a final da Copa européia, um adendo que até me deu vontade de escrever um tópico apenas para isto: em terras brasileiras, é comum mensurar o interesse dos europeus na Final Mundial de Clubes por suas comemorações (quando vencem) ou na reações dos jogadores após a perda do título. Não entro no mérito se valorizam ou não, mas se for pela intensidade de comemoração, os jogadores da Inter de Milão (por que agora todos os narradores resolveram começar a chamar o clube de “o” Inter?) estavam defecando pra taça. Inclusive entre os torcedores, foi uma das comemorações mais fracas que já vi, se tratando de conquistas importantes.

Mas o tema é Campeonato Gaúcho. O futebol do Rio Grande do Sul ainda dorme sobre a fama de raçudo obtida no passado. Não que seus maiores clubes não o sejam. Até são, mas mais por exigência de seus torcedores e do futebol atual, que premia as equipes com melhores condições físicas.

A Séria A caminha firme para se tornar um Campeonato Mineiro, Baiano, e por aí vai. A mídia festeja média alta de gols, por exemplo. Este é outro ponto que não posso entender. O gol tem esta “magia” que os ofensivistas e amantes-de-robinhos adoram, justamente por sua relativa raridade dentro das partidas. Goleadas ocorrem, mas não é a regra. E falando em regra, muito adorador do perde bonito, sempre apóiam movimentos de mudança de regra para prejudicar as defesas e goleiros, porque ter mais gols - supostamente - deixaria o “espetáculo” mais atraente. O problema é achar que futebol é espetáculo. Só o é para esta gente que não torce de verdade pra time nenhum. Por outro lado, implementadas estas mudanças que muitos jornalistas desejam (bola na trave vale 0,25 de gol, escanteio 0,40 de gol e os times não deveriam ter goleiro), o gol iria ter emoção de uma cobrança lateral no meio-campo.

Também na Série A do Gauchão, o TJD (ou o nome que o valha aqui no RS) é mais rígido, em comparação com a Segundona. São mais jogos disputados com a transmissão da TV e há sempre, ao menos, dois plantéis caríssimos que devem ser preservados a custo de muitos cartões e suspensões. Então os jogos entre times do interior e dupla Gre-Nal já se modificaram bastante. O atacante do time interiorano, por exemplo, acha que é mais importante dar um drible desconcertante do que um passe objetivo para seu companheiro melhor colocado só rolar a bola pra rede. Um passe não rende elogio do comentarista, mas uma frescura bem executada, mesmo que resulte na perda de um gol, pode receber interjeições admiradas. O zagueiro passa a ter vergonha de sua essência: o carrinho, o balão e o tapa na cara. Quer driblar, para receber o elogio de que é um jogador técnico. O goleiro, antes elogiado por sua boa colocação (o que simplifica as defesas, mas perde no efeito visual) agora é espalhafatoso até quando defende um traque. Prefere colocar pra escanteio uma bola defensável, desde que a defesa pareça mais miraculosa. O jogador que entra no segundo tempo tem que mostrar uma infinidade de dribles, ainda que improdutivos e que causam prejudicial retenção da bola. É óbvio que o emprego do futebol-força nem sempre rende a vitória. É assim desde os anos 60 no Rio Grande do Sul, mas antes as vitórias da dupla Gre-Nal contra alguns times do Interior eram vendidas de forma cara. Não havia esta festa, o tal “espetáculo”. Hoje perdem por 6 x 1 e o autor do único gol do time da casa festeja sua atuação, o gol marcado (vai pro Youtube) e nada sente sobre a derrota do próprio time. O Interior virou um salão de festas para a dupla Gre-Nal, e mesmo em jogos entre dois times interioranos, só há espaço para os bem-comportados. Outro ponto interessante tem como exemplo o último ou penúltimo Gre-Nal: havia apenas um gaúcho em campo, entre as duas equipes. Parece claro que há um desconto do nosso propagando estilo de jogar futebol quando as equipes são formadas maciçamente por “estrangeiros”. Um fato emblemático se deu numa viagem do Inter para algum país do exterior, nesta Libertadores: tomavam mate apenas os argentinos. Mate não ganha jogo, mas comprova que de gaúcho, os grandes clubes cada vez têm menos, assim como nossa competição principal e inclusive muitos times do Interior.

Por isso a exaltação à Série B é necessária. Algumas vezes pode parecer que é em tom jocoso, mas a realidade é que a Segundona Gaúcha é o que restou do nosso futebol. Sejam pelos seus campos, pela proximidade da arquibancada, por alguns mais exaltados, a Segundona guarda a alma campeira do futebol gaúcho. Que o Tribunal não decida perseguir estes jogadores. Que a TV se mantenha longe das transmissões, se este for o preço a se pagar para ficarmos livres dos julgadores modernos.

Na Segundona Gaúcha, pela ausência da dupla Gre-Nal, as equipes não se respeitam, no melhor dos sentidos. E ainda, não sei exatamente por qual razão, se sentem livres para brigarem por seus clubes. Não é nenhuma apologia à violência, mas é que na maioria das vezes é uma manifestação de inconformidade com os resultados e acontecimentos de campo. Enquanto existir esta inconformidade, o não resignar-se, estará presente o espírito de equipe, de clube. Nada deve ser mais irritante, por exemplo, do que perder uma partida de maneira injusta, com influência da arbitragem, e ver o jogador da tua equipe trocar camisa e sorrisos com o adversário. Há que se ter desportividade, mas aí já é demais. Este risco, ao menos, a Segundona não corre: quase nenhum time tem ternos de jogo suficiente para se dar esse luxo. Antes trocar socos, é gratuito.

Por isto, alguns consomem a farsa do Gauchão. É alimentada pelo passado, mas que não condiz com o atual campeonato, que adora a firula, a média alta de gols, os dribles improdutivos e a “festa” de estádios com uma torcida só.

Longa vida, Segundona. Mas os prognósticos são terríveis.

Abaixo coloco dois vídeos de brigas da Segundona 2010, em dois tradicionais clássicos:
Ba-Gua (Bagé) e Rio-Rita (Rio Grande). Como sempre, “eles” só noticiam os clubes do interior nestas ocasiões e, hipócritas, acham as cenas lamentáveis.





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