É interessante observar que em muitos casos, o estádio de determinado time, por sua história, se torna coadjuvante , no mínimo, quando contada a saga do clube. Apesar dos apelos da modernidade, mesmo que alguns destes sejam justos, um estádio com história nunca deve ser desprezado. Não raro, um estádio é o time.
A famosa cancha do Independiente começou a ser elaborada nos anos 20, já que o clube precisava de um novo local para seus jogos. Seria a terceira sede do clube, fundado em 1905. Pensaram num grande estádio porque já nos anos 20, o Independiente colocava dez mil expectadores em clássicos locais. O projeto, portanto, deveria ter também isto em vista.
A compra do atual terreno não foi fácil (foi pago em 72 prestações), incluindo negociações com proprietários de famílias “racinguistas”, torcedores do rival.
Uma curiosidade, é que o projeto vencedor, do engenheiro Federico Garófalo, previa um pavilhão igual ao da tribuna do hipódromo do Rio de Janeiro, recém inaugurado na época. Segundo o Olé, através do historiador Claudio Keblaitis:
“La intención era construir una estructura de 157 metros de largo, 35 escalones y 28° de inclinación. Totalmente techada. Una construcción novedosa: una visera curva, doble... De cemento...”
Ainda como hoje, os abnegados do Independiente sofriam problemas com os rivais do Racing: enquanto a torcida do rojo colaborava durante o dia com materiais para a empreitada, à noite torcedores do Racing os subtraiam. A coisa acabava em tiros, inclusive, o que obrigou o Independiente a construir muros e contratar um ronda:
“La gente de Independiente llegaba con carros de tierra para rellenar el terreno. Y por la noche, aparecían los de Racing, con chatas, para robárselos. Terminaban a los tiros. Hubo que alambrar el predio y pagarle a un sereno".
Esta terra era necessária para nivelar o terreno, e também para aterrar, já que era uma área de charco (de apelido ‘’El Pantano de Ohaco’’). Somado a isto, a intenção era contruir um estádio de cimento, o que naquele local, era mais difícil ainda. Mas a chuva colaborou para que os depósitos de terra fossem nivelados. Estava aterrado “el Pantano”.
Depois destes e outros percalços, o Independiente inaugurava sua cancha, em 4 de março de 1928, num 2 x 2, contra o Peñarol, frente a 35000 torcedores. O terceiro estádio “de cimento” da América do Sul e um dos maiores.
Passado os anos, “La Doble Visera” presenciou o Independiente finalista em sete títulos da Libertadores, 2 vezes conquistar o Mundial Interclubes, e inumeráveis partidas lendárias. Casualmente ou não, estas vitórias vieram após a remodelação que ocorreu em 1960. Da mesma maneira que a “modernidade” pode ser nefasta a um clube, muitos são os exemplos de clubes que atingem outros patamares mais altos, após investir no seu estádio. Temos exemplos aqui mesmo, no Rio Grande do Sul.
Hoje o Independiente, depois de quase três anos, retornou para sua casa, com vitória: 3 x 2, diante do Colon. Como nos anos 20, a empreitada foi alvo de dúvidas e piadas, não infundadas, porque as dificuldades eram muitas. Mas pela segunda vez, a Avellaneda não tem exatamente uma nova cancha, mas um novo estádio. Se pode perder algo de sua história, com o novo “Libertadores da América”, por outro lado cria uma expectativa em seus torcedores, inclusive olhando para 1960: é de se perguntar o que poderá ocorrer nesta nova fase do Independiente, numa “Doble Visera” remodelada, mas que sempre carregará a história desta legendária cancha.
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Fotos: Deportivo Olé e Claudio Keblaitis
Fonte: Deportivo Olé, Wikipédia Hispânica e Site Oficial do Independiente.
2 comentários:
Tu sabia que o Independiente foi fundado em Buenos Aires? Descobri isso com esse livro: http://www.futebolforca.com/?p=443
Não sabia, Germano. O "de Avellaneda" é quase o sobrenome de Racing e Independiente. Li também lá na tua postagem que um monte de time argentino tem origem 'ferroviária'. Tinha vontade de fazer esse levantamento por aqui no RS, mas as fontes são quase inexistentes. Deve ter mais clubes que a gente conhece (Riograndense de SM, SC Ferroviário de Bagé e talvez Ferro Carril de Uruguaiana) com origem semelhante. Aliás, a literatura sobre o futebol no RS é quase inexistente (com exceção dos livros sobre a dupla Gre-Nal)
Interessante o livro. Vamos ver se aparece na Feira do Livro daqui.
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