Os dois lados da moeda

É engraçado como as coisas se modificam conforme onde está o "observador" como diria o pessoal das ciências sociais. Mas mais ainda que quando observador, quando participante de uma maneira ou outra de eventos, competições, jogos, etc.

Por um lado, sou brasileiro, e acompanho o futebol da Seleção Brasileira em competições importantes como torcedor brasileiro. Sejam em Copa América (quando saem interessantes) ou em Copa do Mundo. De resto a Seleção não me chama a atenção, por causa de outros tantos fatores, mas amistosos em meio a nada (em termos competitivos) não me agradam mesmo. Pode ser até contra a Argentina.

E é a Argentina que usarei como exemplo, de um dos lados da mesma moeda (para fazer jus ao título). Estamos acostumados, consumidores de informação, a ler, ouvir e reproduzir que a Argentina (falo em termos de clubes, principalmente) tem times "tradicionalmente" catimbeiros.
O "tradicionalmente" aparece nestes textos e discursos para não parecer que há uma generalização barata e o catimbeiro é eufemismo muitas vezes, para não dizer que os times argentinos, de maneira geral, batem mesmo e são muitas vezes desleais em jogadas divididas. Alguns locutores e comentaristas até afirmam abertamente, mas normalmente ficam no "tradicionalmente catimbeiro".

Claro que pelo lado argentino, eles também têm suas reclamações com o Brasil e talvez uma delas seja essa: a falta de reconhecimento quando há uma belo futebol, ou apenas o reconhecimento esporádico por uma ou outra jogada ou vitória. Há arte também no futebol platino, seja catimbando ou não.

Mas vivo o outro lado da moeda, mesmo sendo brasileiro. Pois além de brasileiro sou gaúcho. Já vi e li algumas acusações, mais brandas, claro, contra os times gaúchos, semelhantes às usadas contra a Argentina.

Mas além de gaúcho, sou de Bagé e além de ser bageense (ou bajeense, segundo a norma) sou torcedor do Bagé. Então nestas semanas de início de Série B do Gauchão, a qual meu time freqüenta desde 1995, me vejo lendo o discurso que muitos argentinos devem ter lido, assistido e ouvido, e que vinha do Brasil.

Então notei uma coisa: os argentinos devem fica extremamente irritados com as acusações de anti-jogo. Diria até que podem ficar chateados mesmo. Porque quando tu assistes a um jogo de futebol, vê uma partida de marcação forte, ríspida, mas sem jogadas desleais, é muito irritante abrir jornais, sites e comentários nos dias seguintes e ler um monte de acusação de "antijogo" por gente que até nem acompanhou a partida, mas fundamenta a análise no histórico do time (na visão deles "folha corrida").

Nestas semanas de início de segundona, com o outono se aproximando, eu já conheço demais este ambiente, lá vem o velho Bagé de novo, mas com ele os velhos discursos sobre a violência do time da fronteira. Não estou escrevendo que sejam santos ou o time da Associação Cristã de Moços, mas o que é estranho de acompanhar é a utilização de uma imagem pré-estabelecida para atingir fins vantajosos, em bom português: cartões, muitos cartões.
Por isso, os dois lados da moeda. E assistindo a tal partida que é motivo de debate em tal site, e lendo as opiniões, baseadas apenas em coisas pré-concebidas, que não assistiram ao jogo, mas acham demais que tal resultado se dê sem uma explicação que passe pela violência e antijogo, me senti um pouco como imagino que se sintam os argentinos. Mesmo quando o time joga bem, com poucas faltas, o que vale é o status adquirido, pro bem e pro mal.


Foto: Mj Vasquer via Flickr

(peço desculpas pela ausência de postagens, mas não posso prometer maior freqüência devido a absoluta falta de tempo. mas espero que os intervalos sejam menores, certamente)



1 comentários:

Rodrigo de Araújo Rosa disse...

Muito bom teu blog, vou linkar lá no meu.

VAMO, VAMO, INTER!

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