Sábado

Cheguei tarde no Beira-Rio.

Costumava chegar 2 horas antes dos jogos... agora, com a lei seca, preciso chegar mais cedo ainda. O álcool, pro torcedor, é tão fundamental quanto a própria bola no futebol.

Mesmo que o dia frio estivesse com sol, na minha memória ele me parece meio cinzento. A cerveja descia com dificuldade. Lamentei ter esquecido os cigarros - não compro um maço há meses...

A saudação para os amigos foi quase tímida, se comparada às de outros tempos. A quantidade de cerveja também. O clima estava estranho.

"É foda, tchê..."

Dia atipico mesmo: fomos de superior, só pra variar, após anos indo na popular. Lá dentro, estréia do novo técnico.

"Precisamos ganhar, hoje não tem!"

Primeiro tempo acabou - 2x0, e o Edinho marcou um golaço. Bizarro. "Edinho" e "golaço" na mesma frase? Falei que o clima estava estranho.

Segundo tempo foi retranca. O outro time descontou no final. Bela vitória, com raça e tudo que eu poderia esperar pra deixar meu sábado bacana. Mas não vi muitos sorrisos aquele dia. O jogo, definitivamente, não era o que prendia a atenção de todos.

A notícia da manhã nos pegou de suspresa, e não sabiamos como reagir. "Nem falaram o nome dele no jogo", eu pensei, e a torcida ignorou o fato.

Duas horas após o apito final, os amigos sentados numa mesa de posto bebendo, e um silêncio forte no ar - que não era exatamente falta de assunto, mas a presença intensa do tópico do dia, que quase ninguém comentara.

Talvez a perda tenha sido tão grande que a mente recusou-se a tecer qualquer pensamento, qualquer conclusão definitiva sobre tudo aquilo.

Foi tudo abrupto demais. A chegada e a saída. Os últimos 4 anos, as 6 taças, os gols. O choro que interrompeu a entrevista.

Dois dias depois, ainda não tenho opinião. Não quero fazer um texto de despedida, me nego. No sábado, todos dedicaram a vitória à ele. Enquanto nós, no estádio, cantavamos pelo clube, ele ia sozinho pelo Salgado Filho embarcar pro Oriente, pros petrodólares, em algum país obsoleto, onde as pessoas usam panos na cabeça.

Eles passam, todos passam, e só ficamos nós, o coletivo inexorável que é uma torcida de futebol. Sem ter o que falar e olhando para o céu enquanto um avião passa lá longe, na hora do crepúsculo mais belo do mundo, levando com ele parte da história do futebol gaúcho.

Fico com as memórias, a gratidão genuína, e a certeza de que o nosso Sebastianismo tem fundamento: Ele voltará em breve.

1 comentários:

Alexander Aguiar disse...

Que volte logo, até então acho que não saberei comentar acerca do caso com um pingo de sensatez.

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