Pequena farsa gaúcha

Já comentamos aqui no Puro Futebol sobre o estilo gaúcho de jogar futebol. A tal da peleia, rispidez, entre outros. A leitura do texto lincado esclarece a minha (irrelevante) opinião sobre o tema.

Mas hoje divagava sobre as diferenças sobre a Série A do Gauchão e Segundona Gaúcha. Quem(?) acompanha o PF a mais tempo sabe que sempre defendi a Segundona Gaúcha como a melhor competição do continente, só sendo alcançada por algumas competições platinas e pela Libertadores. No caso da Libertadores, a questão é custo-benefício, no sentido de que, para uma competição “glamorosa”, até que é bem disputada. Poderia ser como a insossa final da Copa dos Campeões da Europa. Ainda bem que não é, e agradeçam à famigerada Conmebol, que ainda não se rendeu às pressões dos comentaristas frouxos e fracos da Rede Globo. Acho que eles nem entendem a Língua Portuguesa, na verdade (os da Conmebol, os comentaristas, tenho certeza). Ainda bem.

Sobre a final da Copa européia, um adendo que até me deu vontade de escrever um tópico apenas para isto: em terras brasileiras, é comum mensurar o interesse dos europeus na Final Mundial de Clubes por suas comemorações (quando vencem) ou na reações dos jogadores após a perda do título. Não entro no mérito se valorizam ou não, mas se for pela intensidade de comemoração, os jogadores da Inter de Milão (por que agora todos os narradores resolveram começar a chamar o clube de “o” Inter?) estavam defecando pra taça. Inclusive entre os torcedores, foi uma das comemorações mais fracas que já vi, se tratando de conquistas importantes.

Mas o tema é Campeonato Gaúcho. O futebol do Rio Grande do Sul ainda dorme sobre a fama de raçudo obtida no passado. Não que seus maiores clubes não o sejam. Até são, mas mais por exigência de seus torcedores e do futebol atual, que premia as equipes com melhores condições físicas.

A Séria A caminha firme para se tornar um Campeonato Mineiro, Baiano, e por aí vai. A mídia festeja média alta de gols, por exemplo. Este é outro ponto que não posso entender. O gol tem esta “magia” que os ofensivistas e amantes-de-robinhos adoram, justamente por sua relativa raridade dentro das partidas. Goleadas ocorrem, mas não é a regra. E falando em regra, muito adorador do perde bonito, sempre apóiam movimentos de mudança de regra para prejudicar as defesas e goleiros, porque ter mais gols - supostamente - deixaria o “espetáculo” mais atraente. O problema é achar que futebol é espetáculo. Só o é para esta gente que não torce de verdade pra time nenhum. Por outro lado, implementadas estas mudanças que muitos jornalistas desejam (bola na trave vale 0,25 de gol, escanteio 0,40 de gol e os times não deveriam ter goleiro), o gol iria ter emoção de uma cobrança lateral no meio-campo.

Também na Série A do Gauchão, o TJD (ou o nome que o valha aqui no RS) é mais rígido, em comparação com a Segundona. São mais jogos disputados com a transmissão da TV e há sempre, ao menos, dois plantéis caríssimos que devem ser preservados a custo de muitos cartões e suspensões. Então os jogos entre times do interior e dupla Gre-Nal já se modificaram bastante. O atacante do time interiorano, por exemplo, acha que é mais importante dar um drible desconcertante do que um passe objetivo para seu companheiro melhor colocado só rolar a bola pra rede. Um passe não rende elogio do comentarista, mas uma frescura bem executada, mesmo que resulte na perda de um gol, pode receber interjeições admiradas. O zagueiro passa a ter vergonha de sua essência: o carrinho, o balão e o tapa na cara. Quer driblar, para receber o elogio de que é um jogador técnico. O goleiro, antes elogiado por sua boa colocação (o que simplifica as defesas, mas perde no efeito visual) agora é espalhafatoso até quando defende um traque. Prefere colocar pra escanteio uma bola defensável, desde que a defesa pareça mais miraculosa. O jogador que entra no segundo tempo tem que mostrar uma infinidade de dribles, ainda que improdutivos e que causam prejudicial retenção da bola. É óbvio que o emprego do futebol-força nem sempre rende a vitória. É assim desde os anos 60 no Rio Grande do Sul, mas antes as vitórias da dupla Gre-Nal contra alguns times do Interior eram vendidas de forma cara. Não havia esta festa, o tal “espetáculo”. Hoje perdem por 6 x 1 e o autor do único gol do time da casa festeja sua atuação, o gol marcado (vai pro Youtube) e nada sente sobre a derrota do próprio time. O Interior virou um salão de festas para a dupla Gre-Nal, e mesmo em jogos entre dois times interioranos, só há espaço para os bem-comportados. Outro ponto interessante tem como exemplo o último ou penúltimo Gre-Nal: havia apenas um gaúcho em campo, entre as duas equipes. Parece claro que há um desconto do nosso propagando estilo de jogar futebol quando as equipes são formadas maciçamente por “estrangeiros”. Um fato emblemático se deu numa viagem do Inter para algum país do exterior, nesta Libertadores: tomavam mate apenas os argentinos. Mate não ganha jogo, mas comprova que de gaúcho, os grandes clubes cada vez têm menos, assim como nossa competição principal e inclusive muitos times do Interior.

Por isso a exaltação à Série B é necessária. Algumas vezes pode parecer que é em tom jocoso, mas a realidade é que a Segundona Gaúcha é o que restou do nosso futebol. Sejam pelos seus campos, pela proximidade da arquibancada, por alguns mais exaltados, a Segundona guarda a alma campeira do futebol gaúcho. Que o Tribunal não decida perseguir estes jogadores. Que a TV se mantenha longe das transmissões, se este for o preço a se pagar para ficarmos livres dos julgadores modernos.

Na Segundona Gaúcha, pela ausência da dupla Gre-Nal, as equipes não se respeitam, no melhor dos sentidos. E ainda, não sei exatamente por qual razão, se sentem livres para brigarem por seus clubes. Não é nenhuma apologia à violência, mas é que na maioria das vezes é uma manifestação de inconformidade com os resultados e acontecimentos de campo. Enquanto existir esta inconformidade, o não resignar-se, estará presente o espírito de equipe, de clube. Nada deve ser mais irritante, por exemplo, do que perder uma partida de maneira injusta, com influência da arbitragem, e ver o jogador da tua equipe trocar camisa e sorrisos com o adversário. Há que se ter desportividade, mas aí já é demais. Este risco, ao menos, a Segundona não corre: quase nenhum time tem ternos de jogo suficiente para se dar esse luxo. Antes trocar socos, é gratuito.

Por isto, alguns consomem a farsa do Gauchão. É alimentada pelo passado, mas que não condiz com o atual campeonato, que adora a firula, a média alta de gols, os dribles improdutivos e a “festa” de estádios com uma torcida só.

Longa vida, Segundona. Mas os prognósticos são terríveis.

Abaixo coloco dois vídeos de brigas da Segundona 2010, em dois tradicionais clássicos:
Ba-Gua (Bagé) e Rio-Rita (Rio Grande). Como sempre, “eles” só noticiam os clubes do interior nestas ocasiões e, hipócritas, acham as cenas lamentáveis.





3 comentários:

Anônimo disse...

"Lamentável" para mim é quando, aos 5 graus vou urinar e constato a proximidade de meus testículos. Isso que ocorreu é uma alegre disputa esportiva saudável, com argumentos fortes. Como já disseram, alegre remete aos meninos da vila. Um amistoso desse naipe faria um bem imenso ao amadurecimento profissional daqueles acéfalos. Se não, pelo menos mereciam.
Luciano
P.S. Preguiça de logar (cerva hoje! Um brinde com Patrícia!), mas pode avisar aí! Abs.

Mauriciwellington Monteiro disse...

Eu só queria um jogo entre Meninos da Vila x Guarany ou Grêmio de Bagé.
Só isso.
Sem relevisionamento.

R.Rodriguez disse...

Futebol gaúcho é lixo em geral, o grêmio é o emblema disso. Marcação forte é uma realidade das melhores equipes que lutam por títulos.
Mas Não é preciso ser agressivo e perna de pau para marcar, o Barcelona marca firme por exemplo.

Em verdade o futebol gaúcho preza por essa mediocridade técnica mesmo, e isso só vai rebaixar cada vez mais porque o futuro é marcar duro e com a bola jogar muito.

Quem quer bancar o machão e se afirmar tem UFC, boxe, muay thai... não precisa atrapalhar o futebol.

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