Testemunho de Peso

O sujeito da foto ao lado é Andrés Ducatenzeiler, ex-presidente do Independiente (2002 e 2004), e ex-membro do Comitê Executivo da AFA.

Em meio a toda esta turbulência e quase anarquia que passa o Apertura e, por conseguinte o futebol argentino, Ducatenzeiler, que já se retirou do futebol, concedeu deu uma esclarecedora entrevista ao Diário Perfil da Argentina. Falou sobre várias coisas que ocorrem nos bastidores do futebol portenho. Segundo o jornal, o Independiente, clube que Ducatenzeiler presidiu, é historicamente o clube mais ligado ao atual presidente da AFA, Julio Grondona.
A entrevista ainda repercute na Argentina.

Como seguidamente escrevo aqui sobre as barras e algumas curiosidades extracampo na Argentina, a entrevista dá alguns esclarecimentos sobre coisas que vêm ocorrendo por lá.
Abaixo, algumas das questões respondidas por ele:



Qual é a relação entre os barrabravas e os clubes?


Não diria barrabravas. Para mim é a torcida, porque se não a barra termina sendo uns poucos. Viu-se isso na partida do Racing outro dia: aplicaram o direito de admissão a 16 sujeitos que supostamente são delinqüentes, e enquanto no campo 300 brigavam com a policía, os outros milhares da arquibancada apoiavam, não diziam: “Parem, não façam distúrbios”. Por isso, o nome barrabrava não me agrada (...).
Por que se disse que os torcedores de Gimnasia pressionaram a seus jogadores para que dessem para trás (na partida contra o Boca)? Porque entenderam que outro clube pedia a seus jogadores que por mais dinheiro ganhem uma partida, quando antes, e contra seu rival histórico, tomaram sete gols.Isso o torcedor sente. Não justifica, mas o entendo.

Mas dentro da torcida, a barra não tem um vínculo diferente com o clube?
Sim, são os representantes da torcida. Nunca ouvi um torcedor do Boca dizer que (Rafael) Di Zeo não o representa. E isso lhe dá poder, domínio e uma relativa condição econômica que ele usa para sentar-se à mesa de discussão. Não estão na direção do clube, mas para tomar uma decisão que tenha a ver com a torcida do Boca, se fala com Di Zeo, porque ele move 1.500, 2.000 pessoas. No futebol, com 2.000 pessoas ganha-se uma eleição em qualquer clube, e Di Zeo tem 2.000 pessoas que por sua vez são representantes de outras 10 mil, porque se não o segundo piso do estádio do Boca não estaria cheio. As pessoas escolhem ir onde está La 12. Isto está claro. Gostemos ou não. Na década de 80, o chefe da torcida do Independiente,o Gallego, assinava autógrafos. Ias a um estádio como visitante e não te agrediam nem te roubavam, porque esse tipo com outros te defendia e cuidava melhor que a polícia. Assim foi se criando um grupo de poder. Depois, se deram conta de que o futebol é um enorme negócio onde os espertos encheram-se de dinheiro e o torcedor, como acontece hoje, não pode ir ao estádio, e decidiram fazer parte deste negócio, para que os torcedores que representam a maioria tenham certos privilégios: não pagar entrada, transporte gratuito até os estádios e também conexões políticas que depois lhes dão possibilidades de trabalho.

A barra tem seu próprio orçamento?
"É um orçamento já estabelecido. Por exemplo, se há uma partida da Copa Sul-americana está contabilizado nos gastos para a equipe. Vão viajar 50 pessoas, há que conseguir passagens e os passaportes. A torcida funciona como um gasto a mais. É assim no futebol em geral, e não é um delito".

Arbitragem:
“As pessoas sabem que árbitro prejudica seu clube e qual não prejudica, e vai condicionada. Perguntem em qualquer clube” qual é o árbitro que te prejudica “ e os torcedores sabem, porque esse árbitro está escalado para dirigir determinado clube. Por que têm árbitros que, apenas ao entrar num campo, 50 mil lhe insultam? A AFA não sabe? Para que os colocam? (...)

(...)Daniel Giménez voltou a dirigir Boca-Gimnasia (partida interrompida em La Plata). Ele havia dito que não seguiria porque o ameaçaram de morte! Há que entender que Grondona (presidente da AFA) tirou o técnico da equipe que ia sair campeã (Boca Juniors). Imagine se depois não saísse! Que aconteceria? Boca tem que sair campeão porque lhe tiraram (a AFA) o técnico? Estou fantasiando, qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. Por que o presidente do River não pode falar e fala (Daniel) Passarella? Por que a (José María) Aguilar(presidente do River) lhe salvaram as finanças com empréstimos da AFA? Em um futebol normal, o presidente do River, depois de Boca-Gimnasia, não iria falar? Não é difícil conferir: vá na AFA, onde ninguém pode entrar, pegue os livros e vai ver que nas faturas de conta correntes há um empréstimo de dois milhões e meio para o River, justo no momento de fechar contas. Lá Aguilar começa a perder. E tudo é legal, ninguém fala de ilícitos, mas assim manobram".

Sobre a polícia:
"Um policial cobra muito mais por cobrir uma partida do que por trabalhar de vigilante. Em minha época, o extra que recebiam por cobrir cinco horas de partida eram três dias de trabalho. Assim, as torcidas para enfrentarem-se esperavam que se terminasse o horário policial, porque depois a polícia já não cobria o serviço".

__________________________________
A entrevista prossegue com acusações bastante graves contra o atual presidente da AFA, outros por menores das torcidas, acusações em relação aos contratos da seleção Argentina, entre outras mutretas na manipulação de alguns resultados. É bem interessante e vale a leitura. Não publico completa aqui por que, além da minha tradução estar longe de ser das melhores, por ser bem extensa poderia se tornar muito enfadonho para quem não acompanha o que tem ocorrido no futebol argentino fora de campo.

Leia a entrevista completa aqui.


Fonte: Diário Perfil

Foto1: Diário Perfil
Foto2: 26 Notícias
Foto3: Ambito Web

1 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo post! Parabens!

Postar um comentário

top