Ícones do futebol - I

Neste mês de outubro faz 9 anos que morreu o atacante gaúcho Chico*. Natural de Uruguaiana, Chico jogou muito tempo pelo Vasco da Gama, e é personagem lendário da Seleção Brasileira, ainda que não seja lembrado como merece.

Chico, por seu temperamento forte e tendo a valentia como traço marcante, foi protagonista duma das maiores guerras futebolísticas da história da Seleção Brasileira, ocorrido em 1946.
Mas para entender a história, temos que voltar três meses antes.

O início do fato que desencadeou a peleia internacional, ocorreu em 20 de dezembro de 1945, no estádio de São Januário,RJ. Era um Brasil x Argentina.
Em campo o Brasil vence por 6 x 2. Mas além da goleada, o fato marcante foi a contusão do zagueiro argentino Batagliero, que fraturou a perna após choque com Ademir Menezes. Segundo a fonte do relato, Ademir na época com 20 anos, entrou no choque de maneira involuntária, e quem havia batido mesmo era Chico e Zezé Procópio, mais experientes e de estilo mais "chegador".

Pois três meses depois, o Brasil vai disputar o Sul-americano em Buenos Aires. A final: Argentina e Brasil, no Monumental de Nuñez. A Argentina queria vingança e o clima era de guerra. Numa tentativa diplomática, o então chefe da delegação brasileira Ciro Aranha, leva Ademir pra visitar o zagueiro Batagliero, ainda em recuperação. Não adiantou muito.

Já no estádio do River Plate, Chico recebeu o seguinte conselho de um argentino (diálogo publicado no site NetVasco):

- É melhor não jogar. Nós vamos te matar.

Chico, gaúcho valente e brigão, que nascera e se criara em Uruguaiana, na fronteira, respondeu com raiva:

- Pois vão ter que me matar mesmo!

Para acirrar ainda mais os ânimos platinos, Batagliero desfila em torno do gramado, numa maca, para inflamar torcedores e jogadores locais. A torcida dava o recado para o Brasil:

-Mira!Mira!

A partida começa nesse clima, e aos 28 minutos, o capitão argentino Salomon entra de carrinho em Jair, que levanta a perna, e a perna do jogador argentino choca-se contra a sola da chuteira de Jair. Salomon tem fratura dupla na tíbia e perônio (popular canela), e nunca mais se recuperou para o futebol.

Tempo fecha e Jair tenta ir para o vestiário. O argentino Fonda parte para agredir Jair e Chico intervém na defesa de Jair. Chico é acertado pelas costas por Strembel, e nesse momento se vê cercado por argentinos. Segue brigando valentemente, soco e pontapés de todos os lados, até o máximo em que soldados argentinos de cavalos começam a bater com sabre em Chico, que se defende como pode no meio da turba argentina.

Até que Mário Vianna consegue adentrar no tumulto, em meio a cavalos e jogadores, e tirar Chico dali, trazendo-o para o vestiário, por coragem e sorte, pois com a confusão mais de 500 torcedores argentinos estavam invadindo o campo. A polícia só conseguiu retirá-los com a utilização de bombas de gás.

O Brasil não queria voltar a campo, mas o chefe da polícia local foi ao vestiário brasileiro e disse para que voltassem, pois em caso de cancelamento da partida ele não poderia garantir a segurança da equipe brasileira.
O Brasil volta, mas não houve mais futebol. Chico estava expulso nesta altura. O Brasil perdeu por 2 x 0, e tiveram que se conformar com a derrota.

Na volta ao Brasil, a delegação rumava ao Rio de Janeiro, enquanto Chico ia de trem para Uruguaiana, machucado, mas onde foi recebido pelos gaúchos de lá como herói de guerra, merecidamente.

Fato interessante: Chico em sua carreira pela seleção brasileira, jogou 10 vezes contra a Argentina. Foi expulso em 9.


*Nome: Francisco Aramburu
Nascimento: 7/1/1922, Uruguaiana-RS
Falecimento: 1/10/1997, Rio de Janeiro-RJ
Posição: Ponta-esquerda
Gaúcho de Uruguaiana, Chico foi um ponta veloz, inteligente e valente, que chutava forte com os dois pés, driblava na corrida e cruzava certeiro com a canhota. Dono da camisa 11 do Expresso da Vitória (no Vasco da Gama), travava duelos memoraveis com Biguá, lateral do Flamengo. Na seleção brasileira, Chico também não negava fogo nem fugia do pau. Durante o Sul-Americano de 46 em Buenos Aires, revidou a uma entrada mais dura de um zagueiro argentino. Na briga generalizada que se seguiu, apanhou da polícia argentina a golpes de sabre. Em 1950, Chico marcou 4 gols pela seleção vice-campeã mundial.


Fonte: o excelente texto de Mauro Prais, no site do NetVasco.
Foto: Site Museu dos Esportes

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